OS DIFERENTES MODOS DE OLHAR EM QUESTÃO – O
ALUNO QUE QUERIA APRENDER E A PROFESSORA QUE QUERIA ENSINAR
Rita de
Cássia Cristofoleti (Mestre em Educação – Universidade Metodista de Piracicaba. Professora do
Instituto Superior de Educação Cenecista de Capivari e Professora da Faculdade
Salesiana Dom Bosco de Piracicaba. Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil
e Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Escola Premium Cenecista de Capivari.
e-mail: ricacri@uol.com.br )
1. INTRODUÇÃO
O texto que
aqui apresento é baseado no texto da dissertação de mestrado defendida no ano
de 2004. Nesse sentido, este estudo nasceu em um bairro da periferia da cidade
de Piracicaba no ano de 2002. Bairro este de formação recente, resultado de uma
mistura de gente de origens distintas.
Os prédios
da escola municipal de ensino fundamental (1.ª a 4.ª série) e da escola
estadual de ensino fundamental (5.ª a 8.ª série) se destacavam no bairro em
meio à paisagem de pequenas casas enfileiradas. De construção e funcionamento
recentes, ambas as escolas já eram apontadas como problemáticas em termos do
aprendizado e da disciplina de seus alunos, remetendo à conhecida expressão
“escola de periferia”.
Nesse
sentido, nas páginas a seguir, intentei compartilhar com meus leitores,
aspectos e determinações que aprendi a reconhecer e a explorar nas relações de
ensino, através do olhar atento aos aspectos mais minuciosos do cotidiano
escolar e do confronto deliberado entre as diferentes compreensões que dele se
produziam. Só assim pude me dar conta da vontade de aprender da professora e
dos alunos e apreender sentidos que, embora estivessem sendo produzidos nas
relações escolares, costumam ser excluídos em favor do olhar homogeneizador e
produtivo que já se consolidou sobre eles.
2. VIGOTSKI E BAKHTIN: INTERLOCUÇÕES TEÓRICAS
Para
apreender as relações produzidas na sala de aula entre uma professora, seus
alunos e eu, como pesquisadora, apoiei-me nos princípios da abordagem
histórico-cultural dos processos de desenvolvimento humano postulados por Vigotski
(1998 e 2000), segundo os quais as origens e as explicações do funcionamento
psicológico do homem devem ser buscadas nas interações sociais, na medida em
que é aí que o indivíduo tem acesso aos instrumentos e aos sistemas de signos
que possibilitam o desenvolvimento de formas culturais de atividades e permitem
estruturar a realidade, o próprio pensamento e o reconhecimento de si mesmo
como pessoa.
A base
filosófica da abordagem histórico-cultural de Vigotski é o materialismo
histórico de Marx. Vigotski, opondo-se ao conhecimento produzido sobre o homem
em sua época, que ora o explicava como uma simples continuidade do
comportamento animal (materialismo mecânico), ora como uma especificidade inata
e sem qualquer vinculação com outras espécies (idealismo), dedicou-se a estudar
as características especificamente humanas, buscando também a superação dessas
duas tradições e das dicotomias delas decorrente.
No
materialismo histórico é possível buscar uma especificidade humana nas
condições concretas de existência, por isso, nessa perspectiva o homem é
considerado um ser cultural que se constitui nas relações concretas de vida
social, nas quais está envolvido.
Sendo assim,
o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, como funções
especificamente humanas, se dá nas relações sociais e é mediado pelo outro e
pela linguagem. Esse desenvolvimento deve ser pensado por uma lei de dupla
formação. Para Vigotski (2000a, p. 26) “qualquer função no desenvolvimento
cultural da criança aparece em cena duas vezes, em dois planos – primeiro no
social, depois no psicológico, primeiro entre as pessoas como categoria
interpsicológica, depois, dentro da criança”.
É através do
plano intersubjetivo, da relação do sujeito com o outro, que as funções
psicológicas internalizam-se, constituindo-se em plano intrasubjetivo. Assim,
as funções psicológicas superiores são marcadas pela apropriação, pela
elaboração e pelo uso de recursos mediacionais internalizados. Daí Vigotski
(2000a, p. 26) referir-se ao homo duplex “por trás de todas as funções
superiores e suas relações estão relações geneticamente sociais, relações reais
das pessoas”.
Segundo essa
concepção, a individuação vai se configurando nas transformações do plano
intersubjetivo (relação entre pessoas) num plano intrasubjetivo, em condições
concretas de produção.
A linguagem,
como o principal sistema simbólico humano, desempenha um papel fundamental na
constituição do psiquismo. Central na comunicação entre os indivíduos e no
estabelecimento de significados compartilhados, a linguagem lhes permite
apreender e organizar os objetos, eventos e situações do mundo real, bem como
instaurar e regular as relações que estabelecem entre si e em relação a si
mesmos. Segundo Vigotski (2000a), a percepção da própria identidade nasce nas
relações sociais, já que a personalidade é o conjunto das relações sociais
vividas e interiorizadas. "O individual, o pessoal é uma forma superior de
sociabilidade". (VIGOTSKI, 2000a, p. 27).
Nesse
sentido, a linguagem desempenha um papel essencial na ação dos sujeitos
históricos, que se constituem na relação com o outro – ela é, segundo KRAMER
(1993, p. 90), “constituidora da consciência e organizadora da ação humana”.
Bakhtin
(1999, p. 35) no campo da linguagem formula uma concepção bastante próxima
daquela defendida por Vigotski. Para ele, a nossa subjetividade também se
constitui nas relações sociais mediadas por signos.
Não basta colocar face a face dois homo sapiens
quaisquer para que os signos se constituam. É fundamental que esses dois
indivíduos estejam socialmente organizados, que formem um grupo (uma unidade
social): só assim um sistema de signos pode constituir-se.
Nessa
perspectiva, nosso discurso não é propriamente nosso, mas sim o resultado das
apropriações que fazemos dos signos compartilhados nos dizeres dos outros.
Na realidade, o ato de fala, ou mais
exatamente, seu produto, a enunciação, não pode de forma alguma ser considerado
como individual no sentido estrito do termo; não pode ser explicado a partir
das condições psicofisiológicas do sujeito falante. A enunciação é de natureza
social. (BAKHTIN, 1999, p. 109)
Tendo a
enunciação uma natureza social, para compreendê-la é necessário entender que
ela se dá sempre nas interações entre sujeitos organizados socialmente. É no
contexto da relação entre sujeitos que os dizeres, os enunciados vão sendo
produzidos. “A dinâmica de elaboração e de circulação de sentidos produzida nas
interações” (FONTANA, 2003, p. 70) é o que Bakhtin vai chamar de dialogia.
A dialogia é
a categoria básica de sua concepção de linguagem. Ela refere-se tanto ao fato
de que a linguagem se produz entre sujeitos, quanto ao fato de que as próprias
elaborações que consideramos "individuais" são, na verdade, um feixe
de enunciações alheias que já nos constituem.
Ou seja, a
linguagem é dialógica por ser produzida na relação de quem fala e de quem ouve
e também porque os dizeres de cada um dos interlocutores incorporam e respondem
aos dizeres do outro presente na relação, e aos dizeres de outros que já fazem
parte desses sujeitos. Segundo Bakhtin (1999, p. 113) “[...] A palavra é o
território comum do locutor e do interlocutor”.
Bakhtin
(2000, p. 319) destaca que os significados e os sentidos de uma palavra não
existem em si mesmos, como algo já dado. Eles são elaborados nas enunciações
concretas, e nesse sentido “[...] o enunciado, reflete o processo verbal, os
enunciados dos outros [...]”.
As
enunciações são sempre parte de um diálogo social ininterrupto. Elas remetem
aos enunciados que as precedem e afetam os enunciados que se seguem a elas.
Elas retomam enunciados já proferidos, tonalizando-os de nuances singulares as
suas condições de produção, bem como marcam a compreensão responsiva ativa que
suscitam.
Para
Bakhtin, as condições imediatas e mais amplas de produção dos enunciados, mesmo
não se constituindo como elementos verbais, são centrais aos significados e aos
sentidos nelas produzidos. Para este autor (1999, p. 113) "a situação
social mais imediata e o meio social mais amplo determinam completamente e, por
assim dizer, a partir do seu próprio interior, a estrutura da enunciação”.
Frente a
esses aspectos, Bakhtin considera que falante e ouvinte não interagem com a
linguagem como se ela fosse um sistema carregado de normas, ainda que essas
normas existam e pautem as interlocuções produzidas, as palavras são carregadas
de sentidos, sentidos que nascem na relação social de interlocução e que são
marcados pelos valores, pela vivência, pelas ressonâncias ideológicas que
configuram os sujeitos em interlocução.
Na realidade, não são palavras o que
pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más,
importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis etc. A palavra está sempre
carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que
compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós
ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida. (BAKHTIN, 1999, p. 95).
Portanto, a
palavra focalizada a partir do princípio dialógico de Bakhtin revela-se sempre
múltipla e interindividual.
Se para
Vigotski (2000a, p. 24), no campo da psicologia “através dos outros
constituímo-nos”, e para Bakhtin no campo da linguagem (2000, p. 378) “tomo
consciência de mim, originalmente, através dos outros”, podemos dizer que nas
relações de ensino socialmente constituídas, alunos e professores são sujeitos
interativos, que elaboram os conhecimentos sobre os objetos e sobre si mesmos,
os modos de ensinar e de aprender, num processo sempre mediado por seus muitos
outros e constituído pela linguagem.
As relações
sociais, e dentro delas as relações de ensino, são constitutivas tanto dos
conhecimentos apropriados e elaborados pelos indivíduos, quanto da configuração
de sua subjetividade, tanto dos modos de ação e de dizer de que se apropriam,
quanto de suas histórias singulares. A subjetividade vai se constituindo na
diversidade das relações sociais vividas pelos sujeitos e essas relações por
sua vez, são mediadas pela palavra.
Nesse
sentido, os conhecimentos (escolares e não escolares) e o conhecimento de si
mesmo como pessoa, nascem e se desenvolvem nas relações sociais. Eles são de
natureza intersubjetiva. As relações sujeito-objeto e sujeito-sujeito são
sempre mediadas pelo outro, pelas práticas culturais e pela linguagem. Assim,
assume-se o pressuposto de que os processos psicológicos emergem e
consolidam-se relacionados aos modos de vida dos indivíduos em interação.
Vistas dessa
perspectiva, as escolas, e dentro delas as salas de aula, são um ponto de
cruzamento entre indivíduos distintos, portadores de histórias distintas.
Nelas, a vida social reflete-se e se refrata em dramas singulares. Ali, muitas
vezes aproximam-se e/ou confrontam-se pessoas que tudo separa.
No espaço
escolar, ocorre segundo Vigotski (2000), uma iniciação deliberada da criança na
elaboração sistematizada de conceitos relativos aos saberes escolares, num
processo em que a mediação do adulto se diferencia da mediação realizada na
atividade mental centrada sobre a vida cotidiana. Na vida cotidiana, adulto e
criança interagem espontaneamente, não há um planejamento prévio das ações do
adulto com relação ao seu ensinar e ao aprender da criança. Segundo Fontana e
Cruz (1997, p. 111) "[..] a atenção de ambos está centrada na própria
situação e não na atividade intelectual que estão desenvolvendo enquanto a
vivenciam".
Já na
relação de ensino, a mediação do adulto é deliberada e explícita. A criança,
segundo Fontana (2000, p. 21-22):
[...] tem uma imagem socialmente estabelecida,
do papel do professor e do papel que é esperado dela nesse contexto. (...)
Acompanhada de seus conceitos espontâneos, a criança procura raciocinar junto
com o professor, tentando reproduzir as operações lógicas utilizadas por
ele.
Isso
significa que nas relações de ensino, tanto a professora, quanto os alunos
afetam-se reciprocamente, ensinando e aprendendo. O conhecimento que eles
constroem se dá num processo de interdiscursividade, num espaço de elaboração
inter e intrasubjetivo. Nessas relações, professora e alunos apropriam-se
também de modos de apresentar-se como sujeitos, que constituem a sua
individualidade.
Nesse
contexto, apresento a seguir, fragmentos do cotidiano da escola e de uma sala
de aula de 3ª série, constitutivos das aprendizagens e modos de elaboração do
conhecimento dos sujeitos que estavam ali inseridos.
3. O RITUAL
Muito antes
do gesto de abrirmos o livro, muito antes de proferirmos nossas primeiras
palavras, a aula começa.
Roseli
Fontana – Sobre a aula: uma leitura pelo avesso.
Os acontecimentos
cotidianos, em sua maioria, são marcados pela previsibilidade dos fatos, por
uma sensação de que “todos os dias são iguais”. Segundo A. Heller (2000, p.
43), “são traços característicos da vida cotidiana: o caráter momentâneo dos
efeitos, a natureza efêmera das motivações e, a fixação repetitiva do ritmo, a
rigidez do modo de vida”.
Porém, a
rigidez das formas de pensamento e comportamento cotidianos, segundo Heller
(2000, p. 44) “é apenas relativa, ou seja, pode se modificar lentamente na atividade
permanente e, com efeito, geralmente se modifica”, e nesse sentido, se a vida
cotidiana nos dá indicativos de uma tal repetição dos atos e fatos, que se
modificam com o tempo, podemos perceber que ela também está marcada por alguns
rituais que a acompanham.
Nas palavras
de Da Matta (1983, p. 55) “o ritual é algo plenamente compatível com o mundo da
vida diária e os elementos do mundo diário são os mesmos elementos do ritual”.
Assim, muito
antes de entrarmos na sala de aula, o ritual da aula começa. Começa na conversa
das crianças com os amigos, na conversa das professoras com outras professoras,
na fila, no caminhar para a sala de aula... Ou seja, a aula começa nessas
relações estabelecidas entre as pessoas que estão na escola. Esses momentos
vividos na escola, e na sala de aula passam a ser símbolos de um conjunto de
relações sociais.
Segundo Da
Matta (1983, p. 60):
Os rituais
não devem ser tomados como momentos essencialmente diferentes daqueles que
formam e informam a chamada rotina da vida diária. Os rituais como elementos
triviais do mundo social podem ser deslocados, e transformados em símbolos que,
em certos contextos, permitem engendrar um momento especial e
extraordinário.
Nas ações
rotineiras, cotidianas que pretendo narrar a seguir, estão presentes alguns
rituais que marcam as relações sociais entre alunos e professoras. Nesses
momentos aparentemente irrelevantes em sua mesmice cotidiana, revelam-se
nuances menos conhecidas das relações sociais produzidas.
4. OS RITUAIS DA AULA E OS LUGARES DE PERTENÇA
POR ELES INSTAURADOS E MANTIDOS
O sinal de
entrada dos alunos tocava, era sete horas da manhã, alguns alunos ainda vinham
chegando, corriam, a fila estava sendo formada. Outros, nem terminavam de tomar
a merenda, caminhavam para a fila ainda comendo. Alguns deles não queriam saber
de fila, ficavam correndo, brincando, conversando. A música começava, os alunos
cantavam, mas não eram todos. Nessa hora os alunos da escola estavam todos
reunidos, cada classe com sua professora. As professoras também conversavam,
algumas delas cantavam junto com seus alunos. A música parava. Fazia-se uma
oração agradecendo a Deus pelo dia. Professoras e alunos caminhavam em direção
à sala de aula. A sala estava trancada. A professora abria a porta. Não
demorava muito, e os alunos entravam. Acomodavam-se nos seus lugares. Alguns
ficavam fora da classe exercitando uma brincadeira esquisita de chutes e tapas.
A professora os chamava. Ela arrumava as carteiras, umas atrás das outras.
Enquanto alguns alunos a ajudavam, outros corriam na sala de aula, subiam em
cima de um balcão que tinha na classe, pegavam uma vassoura que ora servia de
microfone, ora servia de instrumento de defesa ou de ataque em suas
brincadeiras de brigas.
A professora
abria o seu armário, pegava alguns cadernos que estavam soltando as folhas, um
pote com alguns lápis que possuíam nomes, algumas borrachas e um apontador
que ela
deixava em cima do balcão. Chamava o
ajudante do dia. Ele distribuía os cadernos e os lápis. Alguém sempre gritava
de lá do fundo, ou vinha devagar perto da professora dizendo: “Fiquei sem
caderno, não está na escola”. A professora providenciava uma folha avulsa e
entregava: “Vai fazendo nessa folha, enquanto procuro o seu caderno”.
Não eram
todos os alunos que deixavam o caderno na escola, alguns tinham mochila e
estojos cheios de lápis e canetas, outros não tinham nada, usavam os cadernos e
os lápis que a escola oferecia. “Professora, alguém pegou meu lápis”; “Meu
lápis tá pequeno”; “Cadê a borracha? Vou emprestar de alguém”. Eram os dizeres
constantes e rotineiros dos alunos.
A professora
diariamente colocava o cabeçalho na lousa:
Piracicaba,
16 de setembro de 2002.
Hoje é
segunda-feira.
O dia está
nublado.
Faltaram 08
alunos.
O ajudante
do dia é:
L
U
C
A
S
Ao lado de
cada letra do nome do ajudante, os alunos escreviam palavras que começassem com
elas.
Enquanto a
professora colocava essa atividade na lousa, alguns alunos corriam, brigavam,
conversavam, na maioria das vezes nem abriam o caderno. Outros tentavam, mas
diziam: “Não sei fazer” – acabavam desistindo – fechavam o caderno. A atividade
levava de 30 a 40 minutos.
“Eu faço
diariamente essa atividade para ajudar os alunos que ainda não sabem escrever,
assim eles tentam escrever algumas palavras”, dizia a professora querendo me
mostrar a diversidade de alunos que frequentava a sala de aula.
“Acostume
moça, todos os dias são assim, tem dia que é pior, hoje até que eles não estão
fazendo muita bagunça”, disse-me um aluno no primeiro dia em que visitei a
classe.
A professora
preocupada em ensinar os conhecimentos propostos pela escola para a sua série,
costumeiramente selecionava uma série de exercícios em livros didáticos, e os
transcrevia
na lousa, pedindo para que as crianças os copiassem e resolvessem. As
atividades, por sua vez, eram fragmentárias e não se explicitava para os alunos
a razão de ser das mesmas. Os textos de leitura, na maioria das vezes, também
não eram oferecidos impressos para as crianças. A atividade de copiar era utilizada
em quase todas as situações de ensino.
Os alunos
não se engajavam totalmente nas atividades, os que sabiam ler e escrever
cumpriam a tarefa o mais rápido possível, e depois iam brincar, conversar,
correr pela sala. Os que ainda não estavam alfabetizados não conseguiam
realizar essas atividades sozinhos. Tentavam, mas na medida em que percebiam
que não seriam bem sucedidos em sua realização e que, não contavam com nenhum
tipo de ajuda por parte da professora, porque esta não conseguia atender a
todos os pedidos de ajuda para a realização das atividades, e que outros
colegas também não ajudariam, eles desistiam, ingressando na correria, nas
conversas paralelas, junto com os outros que já haviam terminado.
Diante dessa
situação, a professora tentava justificar a todo o momento sua dificuldade em
trabalhar com a classe: “Você está vendo como é a classe, eles não me
respeitam. Essa classe parece ser problemática desde o ano passado e ainda
deixaram todos esses alunos juntos de novo esse ano”.
A avaliação
da classe, tanto do ponto de vista do aluno que me alertava - “Acostume moça”
-, quanto pelo dizer da professora - “Eles não me respeitam”; “Não sei o que
fazer com os alunos que não sabem ler nem escrever”, – acompanharam-me durante
todo o tempo que permaneci na sala de aula.
De um lado
colocava-se a professora, tentando justificar a sua dificuldade em trabalhar
com a classe; de outro, estavam os alunos que indiciavam não saber o que fazer
com as atividades que lhes eram propostas.
Do lado dos
alunos, as relações diversificavam-se em função dos lugares sociais que
ocupavam em relação ao aprendizado. Os próprios alunos situavam-se em três
grupos: o grupo dos que aprendiam o que a professora ensinava e sabiam ler e
escrever; o grupo dos que aprendiam parte do que a professora ensinava e que
sabiam ler e escrever algumas coisas e o grupo daqueles que não sabendo ler e
escrever, ficavam à margem das relações de ensino tal qual eram produzidas na
sala de aula.
O jogo das
relações entre os alunos era pautado por esses lugares. Os alunos que sabiam
mais reivindicavam seus direitos em sala e se dirigiam a seus pares de forma a
legitimar os lugares que ocupavam – nós, os que sabemos, e eles, os que não
sabem. Entre os alunos que não sabiam quase nada, deparei-me com esforços
desesperados de mostrar que sabiam algumas coisas e que tinham vontade de
aprender o que não sabiam. Muitas dessas crianças, em seus pedidos de ajuda
para realizar as atividades que lhes eram propostas, mostraram-me que, mesmo na
adversidade das relações de ensino que viviam na sala de aula, alguma
possibilidade de aprendizado existia e resistia.
Pelo lado da
professora, fui observando sua preocupação com os alunos, e o não saber o que
fazer com aqueles que não aprendiam. Aquela classe tinha sido destinada a ela,
pela pontuação que tinha em relação às outras professoras. Ela fora uma das
últimas a escolher naquela escola. Ao chegar, a classe da 3ª série já estava a
ela designada por ser uma das classes que sobrara no período em que ela escolhera
trabalhar.
Todos na
escola, da coordenação aos funcionários, manifestavam julgamentos desabonadores
em relação a sua turma e sentiam-se autorizados a repreender as crianças, mesmo
na sua presença.
Embora a
classe a ela atribuída fosse considerada problemática desde o ano anterior e
tivesse sido recusada pelas professoras efetivas da escola, o fato daquela
professora não ter conseguido reverter esse quadro, segregava-a juntamente com
seus alunos.
Seu ar de
cansaço, desencanto e desânimo ficaram profundamente marcados em mim. Os bons
momentos como professora, que por vezes me relatava, nunca diziam respeito a
sua turma. Eles tinham sido vividos com outras crianças, em outras escolas.
Ali, só amargava o não saber o que fazer. Sentia-se desrespeitada pelos alunos
e desvalorizada por seus pares. Seu maior desejo era que o ano letivo acabasse
e que ela pudesse começar em outra escola, com outros alunos, um outro capítulo
da sua história profissional. Naquela jovem mulher, a professora desistia e
entregava-se à exclusão.
Mergulhada
na trama das relações estabelecidas na sala de aula e na escola, fui percebendo
o quanto a pertença era ali definida pela exclusão. Tal qual os moradores das
áreas de risco permanecem na cidade, desde que afastados do seu centro, as
crianças que não
correspondem
ao modelo escolar esperado também permanecem na escola, mas na condição
“beiradeira” de segregados.
As crianças,
daquela 3ª série, eram parte desse grupo de alunos segregados na escola.
Agrupadas em uma mesma sala, elas compunham uma das classes mais fracas, dentro
de uma das escolas mais problemáticas da rede da cidade de Piracicaba. Como
havia entre seus alunos fracos e indisciplinados aqueles que não sabiam
escrever direito nem mesmo o próprio nome, eles compunham dentro dessa classe,
o grupo dos alunos mais „incapazes..
No entanto,
em meio a essa curiosa e cruel inclusão excludente, ouvi aqueles alunos com
mais dificuldades pedirem ajuda para fazer suas lições: Como faz? O que é para
fazer? E vi a professora, mesmo desanimada, tentando voltar a contar
histórias... Pálidos e sutis indícios de que a disponibilidade e as
possibilidades para o aprender ainda não estavam mortas... Marcas da vontade de
aprender escondida pelo cansaço, pela solidão, pela desistência dos alunos e da
professora.
5. OS DIFERENTES MODOS DE OLHAR EM QUESTÃO – O
ALUNO QUE QUERIA APRENDER E A PROFESSORA QUE QUERIA ENSINAR - O DIA DA
AVALIAÇÃO...2
Nesse dia os
alunos estavam quietos. As carteiras já estavam arrumadas, umas atrás das
outras como era de costume. As crianças chegaram da fila de entrada e já foram
sentando. A professora veio pedir minha ajuda para a aplicação de uma avaliação
diagnóstica elaborada pela direção e pela coordenação da escola, que era
padronizada para todas as séries, a fim da escola ter alguns parâmetros de como
estavam os alunos em termos da aprendizagem dos conteúdos a serem ensinados
para cada sala de aula.
“Eu pensei
em aplicar hoje, porque eu tenho a sua ajuda”, disse a professora.
Ela
distribuiu os lápis que possuíam os nomes de cada aluno e as folhas da
avaliação. Alguns alunos resistiam em fazer.
“Eu não vou
fazer isso não”, disse Lucas.
“Se eu não
saber fazer, eu vou repetir de ano”, disse Rafa.
“Gente, essa
avaliação é para ver o quanto vocês sabem, vai ficar na escola, ninguém vai
repetir o ano por causa disso”. Professora
“Mas professora, eu não sei nada, como é
que eu vou fazer”?, disse Lucas.
A professora
veio me perguntar se eu achava melhor que ela explicasse a avaliação. Eu
respondi que o interessante seria ela explicar sim, porque do contrário os
alunos não saberiam fazer, e iriam ficar sem orientação.
A avaliação
era composta por um texto, seguido de exercícios gramaticais a ele referentes.
A professora
propôs-se a ler o texto e os exercícios em conjunto com os alunos.
“Aqui nessa
classe ninguém sabe ler não professora”, disse Rafa.
Rafa
reproduziu a percepção que as pessoas da escola faziam da classe – é uma das
piores classes da escola. A professora não comentou a constatação de Rafa e
começou a ler o texto. Alguns alunos a acompanhavam, outros só ouviam, quietos,
mostrando estarem apreensivos com o fato de serem avaliados por alguma coisa
que nem sabiam fazer direito.
Já na
primeira atividade, começou uma certa confusão entre os alunos:
“O que é
substantivo? Eu não sei, profe. Você não vai ensinar?”, disse Nata.
Rafa, do meu
lado: “Você vai me ajudar, né?”.
“Você já
sabe fazer”, respondi.
“Não sei não
Rita, você precisa me ajudar”. Rafa
Expliquei
para o Rafa as atividades, e do outro lado da classe, Lucas me chamou: “Vem me
ajudar, eu não consigo fazer sozinho. Eu não sei escrever, só sei copiar, nem
sei o que é isso – substantivo próprio”. Lucas
Essa
avaliação iria constatar o que aos olhos já estava posto – Os alunos não sabiam
fazer as atividades de gramática. E sabiam que não sabiam. Lucas queria fazer
as atividades, mas não sabia por onde começava.
Nessa hora a
minha vontade era a de ensinar os conhecimentos para Lucas, mas como era uma
avaliação, se eu o ensinasse, estaria quebrando uma regra escolar. Então,
frente a minha sensação de incapacidade de ensinar em poucos minutos o que era
substantivo, eu acabei desistindo, e disse para ele:
“Lucas faz
do jeito que você sabe, se não sabe não faz”.
Experimentei
uma certa inquietação a esse respeito e fui ficando apreensiva com o fato de
ver os alunos pedindo ajuda para fazer algo que não tinha nenhum sentido para
eles – não sabiam escrever, não conseguiam ler, como iriam fazer atividades de
gramática? Como conseguir ensinar esses alunos que diziam o tempo todo querer
aprender no meio de tanto barulho que eles próprios faziam por exatamente não
entenderem, ou não fazer nenhum sentido o que falava a professora?
Segundo
Fontana e Cruz (1997, p. 208), “leitura e escrita são objeto de conhecimento
(as crianças vão à escola para aprender ler e escrever) e instrumento para a
apropriação de outros conhecimentos (utilizando essas atividades, nós, professores
ensinamos)”.
Como os
alunos não eram alfabetizados, essas atividades gramaticais não tinham nenhum
significado para eles. Concordando com Vigotski (2000, p. 398) de que “a
palavra desprovida de significado não é palavra, é um som vazio”, para Lucas,
Léo, Nata, substantivo, verbo, artigo, eram palavras vazias, sem nenhum
sentido. Sabiam que essas palavras queriam dizer algo, era importante, pois
estavam sendo avaliados em relação ao saber dessas palavras, mas ainda não as
compreendiam.
Lucas frente
à minha desistência em querer ensiná-lo, levantou da sua carteira e foi até a
carteira de Eliana, voltou e disse para Leo, que também não sabia fazer:
“Eu vi lá
meu, é isso que coloca” – apontando para a palavra Sol no texto. Lucas
“E o que
está escrito aí”. Leo
“Sei lá, eu
copiei da Eliana”. Lucas
“O que é
artigo, a profe disse que é para achar um artigo no texto”. Lucas
“Artigo, a
profe nunca explicou isso”. Nata
“Eu sei o
que é artigo, é uma planta que pinica”. Leo
“Leo, planta
que pinica é urtiga”. Rita
“É isso
mesmo, então artigo eu não sei o que é”. Leo
Nata
levantou da carteira e foi perguntar para a professora como formava frase
(interrogativa, exclamativa, afirmativa e negativa, como o exercício pedia). A
professora orientando outros alunos sobre como fazer as atividades pediu para
que Nata esperasse um
pouco. Nata
voltou para a sua carteira dizendo: “Eu não sei formar frase, eu não vou fazer,
a profe não ensina, a gente vai pedir e ela não ensina, eu vou brigar
mesmo”.
Nata
levantou e foi para fora da sala de aula. Alguns minutos depois, voltou e
começou a bagunçar a aula. A professora pedia para ele parar e ir fazer a sua
atividade. Frente ao seu desconhecimento sobre os saberes que estavam sendo
avaliados, Nata, disse o que pensava com relação ao ensinar de sua professora.
“Eu não vou
fazer, eu não sei nada, você não ensina”. Nata
“Você é que
não presta atenção”. Professora
“Porque você
não ensina”. Nata
Na hora em
que acabou a aula, a professora angustiada com o que tinha acontecido veio me
dizer:
“Tá
complicado ensinar essas crianças. Você viu a Carina, a Luana, como fazem bem
feito. Elas têm condições de avançar muito mais do que estão. Olha o Rafa, ele
faz rápido, porque ele entende rápido, depois que acaba a atividade ele vai fazer
bagunça junto com os outros porque não tem o que ele fazer”. Professora
“Mas você
entende que aqueles que não fazem é porque não veem sentido, não sabem fazer”.
Rita
“Eu sei, eu
já tinha percebido isso antes, mas é muito difícil trabalhar com alunos tão
diferentes. Eu já disse que se colocassem os que sabem numa classe, e os que
não sabem em outra seria muito mais fácil. Pelo menos você trabalha só com
alfabetização. Agora veja a Carina, a Luana, o Rafa, o Guilherme, não avançam
porque eu não posso dar mais coisas por causa dos alunos que não sabem”.
Professora
A professora
queria ensinar os conteúdos propostos no plano de ensino para a sua série, mas
se via impossibilitada pelo fato da classe ser composta por alunos que estavam
em momentos de aprendizagem bastante diferentes. Essa disparidade a incomodava,
pois existiam na classe alunos que resolviam os exercícios e alunos que não
conseguiam nem ler os exercícios propostos por ela. Sua vontade era a de que
esses alunos fossem separados para que houvesse condições de se ensinar
conhecimentos adequados às condições de aprendizagem em que eles estavam.
Na situação
em que se encontravam, tanto os alunos que já sabiam, como aqueles que não
estavam alfabetizados tinham acesso ao mínimo de conhecimento e de aprendizagem
desses conhecimentos nas relações de ensino.
Nos dizeres
da professora com relação aos saberes escolares de que seus alunos dispunham e
não dispunham, estava marcada a ilusão de que reunindo alunos num mesmo patamar
de aprendizagem, aquilo que se ensina seria aprendido igualmente por
todos.
A concepção
de classes homogêneas, presente em seus dizeres, foi durante muito tempo o
princípio que pautou a organização das classes nas escolas. Porém, esse modo de
organização das classes, de acordo com os mesmos níveis de aprendizagem dos
alunos, vem sendo criticado nos dias atuais, exatamente pela ilusão que carrega
de que todos podem aprender igualmente tudo o que lhes for ensinado.
É o caso da
análise que faz Esteban (2002) de que o fato de se ter classes com alunos que
possuem saberes semelhantes não é garantia de que todos irão aprender num mesmo
momento, as mesmas coisas. A questão da heterogeneidade continua existindo,
mesmo nesses casos, pois a elaboração dos sentidos existentes nas situações não
se dá de forma igual para todos, a diversidade de processos e ritmos está
presente também nessas relações.
Segundo
Esteban (2002, p. 89):
[...] Negar a diversidade de sentidos presentes
nas palavras (nas situações) é negar a história social que a constitui e a
possibilidade de expressão e fortalecimento da diversidade de interpretações da
realidade, além de impedir a configuração de alternativas, socialmente
reconhecidas, de intervenção na realidade.
Assim, o
sucesso escolar se articula com a capacidade do processo pedagógico de permitir
que a diversidade seja elemento de indagação sobre as relações sociais que
geram a desigualdade de significados e de valores, produzindo com isso,
possibilidades outras para o ensinar e o aprender. Possibilidades estas
presentes naquilo que os próprios alunos indiciam já saberem, e que apesar
desses saberes estarem muito aquém daquilo que é almejado, há que se reconhecer
que eles existem, trabalhando no sentido de que se aprimorem e avancem.
Dar voz a
multiplicidade de sentidos produzidos nas relações de ensino, considerando a
diversidade dessas relações, e levando em conta os saberes em circulação na
sala de aula, pode dar um novo rumo para a escola que frequentemente busca a
homogeneidade.
6. EM BUSCA DE EXPLICAÇÕES – ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A função
“papel social” não nasce casualmente, nem do nada, mas resulta de numerosos
fatores da vida cotidiana dados já antes da existência dessa função e que
continuarão a existir quando ela já se tiver esgotado.
Agnes
Heller, O Cotidiano e a História (2000).
No episódio
relatado, tanto a professora como os alunos possuíam uma compreensão dos papéis
sociais que cada um representava em sala de aula. Em seu dizer o aluno relatava
a sua compreensão sobre a professora, “Eu não sei fazer porque você não
ensina”, por outro lado a professora também revelava a sua compreensão sobre o
não saber do aluno “Você não sabe, porque você não presta atenção”.
Através de
seu dizer tanto para mim, em sala de aula, quanto para seus próprios alunos a
professora revelava uma concepção de que seus alunos não aprendiam porque não
queriam.
Retomando as
análises feitas por Soares (1993), é possível dizer que a escola espera que as
crianças dominem certos saberes que são escolares, e na medida em que ela não
encontra nas crianças esses saberes escolares instaurados ela também não
ensina. A professora vai reproduzindo uma prática comum na escola que é a
espera de encontrar nos alunos um domínio de uma série de saberes que são escolares.
Por parte
dos alunos, existia uma vontade de aprender que nos desencontros produzidos
entre a mediação feita pela professora e a atividade do aluno, acabava
resultando em não aprendizado. Na forma como as mediações eram produzidas, o
aluno não reconhecia na professora alguém com quem compartilhar e a quem
recorrer.
Quando a
criança diz - “professora o que é para fazer” - ela está pedindo que alguma
intervenção seja feita no intuito de promover a aprendizagem. Quando a
professora não sabe o que fazer com esses pedidos de ajuda, a criança fica sem
uma resposta ao processo pelo qual está passando, e a aprendizagem ou não
ocorre, ou se defronta com obstáculos que poderiam ser trabalhados pelo adulto
que está ensinando.
Muitos dos
pedidos de ajuda das crianças costumavam ser interpretados como não saberes,
como falta de vontade e de atenção. Essa concepção sobre o aprendizado e o
desenvolvimento dos alunos remete a uma certa ideia de autonomia referente a
algumas
teorias da
psicologia que consideram que o desenvolvimento dos sujeitos é apreendido a
partir daquilo que ele é capaz de fazer sozinho.
Ao falar
sobre a interação entre desenvolvimento e aprendizagem, Vigotski (1998) nos
ajuda a fazer uma outra leitura através do conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal, explicitando que, quando de qualidade e desafiadora, a aprendizagem
impulsiona o desenvolvimento, ou seja, existe todo um espaço de atuação do
professor naquilo que o aluno ainda não consegue fazer sozinho, mas que precisa
da intervenção de um outro para conseguir. Nesse sentido, “a noção de
desenvolvimento proximal capacita-nos a propor que o bom aprendizado é somente
aquele que se adianta ao desenvolvimento”. (VIGOTSKI, 1998, p. 117).
Segundo
Vigotski (1998, p. 117):
[...] um aspecto essencial do aprendizado é o
fato dele criar a zona de desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado
desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de
operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em
cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados, esses processos
tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente da criança.
Oliveira
(2002), referindo-se a esse aspecto sugere que ao se adiantar ao
desenvolvimento, a escola como um lugar de aprendizagem dos conhecimentos
sistematizados, tem um papel essencial na construção do ser psicológico, dos
indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas. Para a criança que frequenta
a escola, o aprendizado escolar é elemento central no seu desenvolvimento, e a
intervenção de outras pessoas que no caso da escola, é o professor ou os alunos
que já aprenderam determinados conteúdos, possibilitam o avanço no
desenvolvimento daqueles que ainda não sabem.
REFERÊNCIAS
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2000.
BAKHTIN, M. (Volochinov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. 9.ed. São
Paulo: Hucitec, 1999.
DA MATTA, R. Carnavais Malandros e Heróis – Para uma sociologia do
dilema brasileiro. 4.ed. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1983.
ESTEBAN, M.T. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso
escolar. 3.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
FONTANA, R.A.C. Como nos tornamos professoras? 2. ed. Belo horizonte:
Autêntica, 2003.
FONTANA, R.A.C. Sobre a aula: uma leitura pelo avesso. In: Presença
Pedagógica. V. 7, n.º 39, p. 31-37, mai./jun. 2001.
FONTANA, R.A.C. Mediação Pedagógica na sala de aula. 3.ed. Campinas, São
Paulo: Autores Associados, 2000.
FONTANA, R.A.C.; CRUZ, N. Psicologia e Trabalho Pedagógico. São Paulo:
Atual, 1997.
GÓES, M.C.R. A natureza social do desenvolvimento psicológico. In:
CEDES, n.º 24, p. 17-43, Campinas, 1991.
HELLER, A. O cotidiano e a história. 6.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2000.
KRAMER, S. Por entre as pedras: Arma e sonho na escola. São Paulo:
Ática, 1993.
OLIVEIRA, M.K. VYGOTSKY - Aprendizado e desenvolvimento: Um processo
sócio histórico. São Paulo: Editora Scipione, 2002.
SOARES, M. Linguagem e Escola: Uma perspectiva social. 10. ed. São
Paulo: Ática, 1993.
VIGOTSKI, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
VIGOTSKI, L.S. Manuscrito de 1.929. In: Educação e Sociedade. Ano XXI,
n.º 71, julho, 2000a.
VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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