1.A
influência do mercado de trabalho na educação de trabalhadores: um desafio
permanente para os educadores.
1.1Novas
exigências.
Nos últimos
dezessete anos, a sociedade de modo geral e o mercado de trabalho, em
particular, têm-se manifestado objetivamente sobre a necessidade de alteração
do perfil de desempenho dos trabalhadores. Com muita freqüência, jornais
apresentam artigos sobre esse assunto, chamando a atenção para a necessidade de
se aperfeiçoar a ação das escolas, bem como a de seus professores, a fim de
garantir uma preparação mais adequada dos estudantes, futuros trabalhadores. No
dia quinze de dezembro de 1999, como se estivesse fazendo uma síntese dessa
tendência, o Jornal da Tarde coloca, em sua primeira página, a manchete A
escola brasileira não ensina a pensar, a partir de análise dos resultados da
aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
1.2Algumas
opiniões.
Dieter
Mertens, em sua tese Educação para uma Sociedade Moderna (Reetz, 1989), chama
essas novas demandas de qualificações-chave e as define como:
Conhecimentos,
capacidades, habilidades e atitudes que não estão diretamente relacionados com
nenhuma atividade prática em particular, mas que permitem assumir um conjunto
de responsabilidades e lidar adequadamente com novas exigências - em sua
maioria imprevisíveis - que ocorrem durante a vida de uma pessoa.
Inspirado em
Mertens; Klein, Borrety, Fink e Holzapfel (1994) da SIEMENS AG de Munique,
criaram o modelo PETRA (Projekt- und transferorientierte Ausbildung). Esse
projeto de educação profissional envolve, além da capacitação técnica, a
capacitação em cinco qualificações-chave e 46 qualidades pessoais (27 atitudes
e 19 habilidades intelectuais), conforme quadro apresentado a seguir, adaptado
por Cruz, Franceschini e Gonçalves (1994).
Qualidades
chave e correspondentesqualidades pessoais.
A visão de
Bruno (Bernardo, 1998, p. VII e p. VIII) sobre o tema é a seguinte:
Hoje, o que
interessa às empresas é sobretudo, a capacidade de pensar dos trabalhadores, de
operar em grupo, de propor soluções, de interagir com diferentes perfis
qualiflcacionais, de aprender e assimilar continuamente as novas técnicas e os
novos códigos disciplinares, tendo em vista as exigências crescentes de aumento
de produtividade. Aos trabalhadores que conseguem se sujeitar a essas novas
exigências é dado o nome de ‘trabalhador cidadão’.
Responsável
pelo Caderno Empregos do jomal O Estado de São Paulo, Torres (2000, p. 4) cita
alguns dos requisitos fundamentais exigidos dos trabalhadores, nos dias atuais:
[...] inglês
fluente, inclusive para estagiários, bom nível de conhecimento técnico,
disposição para estar sempre aprendendo mais e se aprimorando, capacidade de
lidar com situações novas e, acima de tudo, flexibilidade e espírito de
cooperação para trabalhar em equipe e se relacionar com vários tipos de
pessoas.
Tendo como
base dois relatórios publicados pela ONU, o Relatório do Desenvolvimento Humano
(Pnud) e o Relatório Mundial de Emprego (OIT), Pastore (2001) assim se manifesta
sobre o tema:
A
globalização, a revolução tecnológica e os novos modos de trabalhar tomam os
seres humanos rapidamente obsoletos quando são mal preparados. Não há outra
saída: os países que desejam desfrutar dos benefícios da modernização têm de equipar
seus povos com conhecimentos de alta qualidade. É isso que permite absorver
inovações e criar outras. A alfabetização digital é essencial. A capacidade de
comunicar-se adequadamente é indispensável. A maleabilidade para trabalhar em
grupo é fundamental.
Fonseca
(2001, p. 19 e p. 20) declara não ser mais possível separar economia e
educação, uma vez que o que está em jogo é o enriquecimento cognitivo dos
trabalhadores. Ele pergunta, por exemplo:
Por que se
tomará importante investir na educabilidade cognitiva dos trabalhadores? Quais
as aquisições cognitivas básicas dos operários para responderem às novas
situações dos seus empregos? Serão importantes os programas cognitivos para
satisfazer aos novos desafios da economia global? Os operários adultos com
baixo rendimento cognitivo ou dificuldades de aprendizagem estarão
irremediavelmente condenados? Como podem ser integrados em novos processos de
produção? Qual a solução? Dispensar ou redesenvolver as suas capacidades
cognitivas? Como preparar os trabalhadores para uma permanente e perpétua
mudança?
Dentre os
diversos programas de desenvolvimento cognitivo existentes (De Bono, 1973;
Lipman, Sharp e Oscanyan, 1980; e, Stemberg, 1986; por exemplo), Fonseca (2001)
indica o Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) de Feuerstein, Rand,
Hoffman e Miller (1980) como uma das respostas mais adequadas para preparar
estudantes, futuros trabalhadores, com ou sem dificuldades de aprendizagem, bem
como para adultos iletrados, por sua acessibilidade e aplicabilidade a qualquer
sistema de ensino ou formação.
Avaliando
teorias do processamento de informações sobre a natureza da inteligência
humana, Sternberg (1992, p. 35) assim se manifesta sobre o valor prático da
proposta de Feuerstein:
Algumas
teorias provaram ser muito úteis para finalidades práticas, tais como
diagnóstico, prognóstico e treinamento. As teorias de Feuerstein (1979 e 1980)
sobre a experiência de aprendizagem mediada (a experiência da criança mediada
pela mãe, por exemplo) e de funções cognitivas deficientes; [...], provaram ser
muito úteis tanto na avaliação quanto no treinamento das funções intelectuais.
Para Silva
(2003, p. 210 e p. 211):
Os postos de
trabalho, criados de agora em diante exigirão que as pessoas pensem, criem, se
inspirem, se emocionem, raciocinem, opinem, discordem, se apaixonem, detestem;
enfim, que tenham um trabalho verdadeiramente humano, que só pode ser concebido
pelos que possuem mentes e corações, cognições e sentimentos.
Alarcão
(2005, p. 24) diz:
São hoje
muitas as competências desejadas, que assentam num conjunto de capacidades.
Valoriza-se a curiosidade intelectual, a capacidade de utilizar e recriar o
conhecimento, de questionar e indagar, de ter um pensamento próprio, de
desenvolver mecanismos de auto-aprendizagem. Mas também a capacidade de gerir a
sua vida individual e em grupo, de se adaptar sem deixar de ter a sua própria
identidade, de se sentir responsável pelo seu desenvolvimento constante, de
lidar com situações que fujam à rotina, de decidir e assumir responsabilidades,
de resolver problemas, de trabalhar em colaboração, de aceitar os outros.
Deseja-se ainda dos cidadãos que tenham horizontes temporais e geográficos
alargados não se limitando a ver seu pequeno mundo, que tenham dos
acontecimentos uma compreensão sistémica, que sejam capazes de comunicar e
interagir, e que desenvolvam a capacidade de auto-conhecimento e auto-estima.
Finalmente,
o diálogo entre a professora Hermengarda e Calvin (Watterson, 2004, p. D10)
trata,
com humor,
do tema em sala de aula.
2.Um desafio educacional para Reuven
Feuerstein.
2.1O desafio.
No final da
década de 1940, coube a Reuven Feuerstein a tarefa de educar centenas de
crianças e jovens, órfãos da guerra, para que se tornassem cidadãos autônomos e
produtivos. Na época, alguns psicólogos, tendo como suporte a avaliação
estática do quociente de inteligência, e outros, tendo como base os
experimentos de Piaget, respectivamente, sentenciaram: deficientes mentais
irrecuperáveis e nada pode ser feito. Feuerstein, no entanto, preocupado com a
salvação dessas pessoas, esperava mais de seu trabalho: pretendia “resgatar
física, moral e educacionalmente crianças e adolescentes sobreviventes do
Holocausto e de outras condições difíceis em que estavam vivendo em vários
países” (Feuerstein e Feuerstein, Rafi, 2002, p. 14).
2.2Quem é Reuven Feuerstein?
As
informações que seguem foram coletadas em Longhi (1996), Tebar (1998b e 2003),
Zanatta da Ros (2002) e ICELP (2006).
Reuven
Feuerstein nasceu em 21 de agosto de 1921, na cidade de Botosan, um pequeno
povoado da Romênia. Era o quinto entre nove irmãos de uma família judia. Seu
pai era especialista em estudos hebraicos, chefe de culto e rabino. Seu avô
paterno era um homem muito eclético: destacava-se como encadernador, pintor e
músico. Seu avô materno escrevia pergaminhos da Torá. Em sua casa, aconteciam
encontros familiares semanais planejados por sua mãe, nos quais ele e seus
irmãos, sentados à mesa da cozinha, contavam uns aos outros, o que haviam lido,
estudado e aprendido desde o último encontro.
Reuven
aprendeu a ler os textos sagrados aos três anos. Aos sete anos, aprendeu o
iidiche, sua língua materna. Era comum ajudar colegas com dificuldade de
leitura e escrita. Nessa época, ensinou um jovem de quinze anos a ler. Aos nove
anos, ensinou um homem de sessenta anos a ler os textos sagrados. É importante
registrar que, durante sua infância, sua mãe recebia crianças órfãs em sua
casa.
Em
Bucareste, aos 17 anos, iniciou uma experiência educacional relevante:
encarregou-se de organizar a Alyah dos Jovens, uma organização sionista, cuja
meta era concretizar as idéias dessa instituição para a construção de Israel.
Dos 19 aos 23 anos, estudou no Colégio de Professores dessa cidade e, nos dois
anos seguintes, no Colégio Onesco. Ainda nesse período, foi vice-diretor e
professor de Escola para crianças com dificuldades de aprendizagem e problemas
graves de desenvolvimento.
Em abril de
1944, emigrou para Israel e casou-se com Bertha Gugenheim com quem teve quatro
filhos. Feuerstein esperava dar continuidade a seu trabalho educacional de
salvação. Mais tarde, Feuerstein foi convidado a lecionar na Escola Agrícola de
Mikvet-Israel, perto de Tel Aviv, onde teve contato com aproximadamente 300
crianças, vítimas do Holocausto. A carreira educacional de Reuven continuou em
1948 no Kibutz de Rehasmin, uma instituição para crianças com dificuldades de
adaptação.
Em fevereiro
de 1949, é acometido por febre alta e princípio de tuberculose. No hospital,
não parou de estudar: aprendeu, em pouco mais de seis meses, inglês, francês e
alemão. Em 1950, retomou seus estudos em Genebra e trabalhou, simultaneamente,
com Jung em Zurique e com Cari Jaspers na Basiléia. Um ano depois, vai ao
Magreb africano com André Rey para estudar um grupo de crianças. A partir dessa
oportunidade e durante muitos anos, realizou a avaliação de milhares de
crianças que iriam emigrar para Israel, com André Rey e um grupo de psicólogos
ligados a Piaget.
Estudou na
Universidade de Genebra, sob a coordenação de Jean Piaget, Barber Inhelder e
Marguerite Loosli Usteri. Assistiu a seminários de L. Szondi e Cari Jaspers.
Recebeu o diploma de Psicologia Geral e Clínica em 1952. Em 1954, licenciou-se
em Psicologia. Em 1970, Feuerstein obteve o grau de doutor em Psicologia do
Desenvolvimento na Universidade de Sorbonne, em Paris.
Reuven
aprendeu a ler os textos sagrados aos três anos. Aos sete anos, aprendeu o
iidiche, sua língua materna. Era comum ajudar colegas com dificuldade de
leitura e escrita. Nessa época, ensinou um jovem de quinze anos a ler. Aos nove
anos, ensinou um homem de sessenta anos a ler os textos sagrados. É importante
registrar que, durante sua infância, sua mãe recebia crianças órfãs em sua
casa.
Em
Bucareste, aos 17 anos, iniciou uma experiência educacional relevante: encarregou-se
de organizar a Alyah dos Jovens, uma organização sionista, cuja meta era
concretizar as idéias dessa instituição para a construção de Israel. Dos 19 aos
23 anos, estudou no Colégio de Professores dessa cidade e, nos dois anos
seguintes, no Colégio Onesco. Ainda nesse período, foi vice-diretor e professor
de Escola para crianças com dificuldades de aprendizagem e problemas graves de
desenvolvimento.
Em abril de
1944, emigrou para Israel e casou-se com Bertha Gugenheim com quem teve quatro
filhos. Feuerstein esperava dar continuidade a seu trabalho educacional de
salvação. Mais tarde, Feuerstein foi convidado a lecionar na Escola Agrícola de
Mikvet-Israel, perto de Tel Aviv, onde teve contato com aproximadamente 300
crianças, vítimas do Holocausto. A carreira educacional de Reuven continuou em
1948 no Kibutz de Rehasmin, uma instituição para crianças com dificuldades de
adaptação.
Em fevereiro
de 1949, é acometido por febre alta e princípio de tuberculose. No hospital,
não parou de estudar: aprendeu, em pouco mais de seis meses, inglês, francês e
alemão. Em 1950, retomou seus estudos em Genebra e trabalhou, simultaneamente,
com Jung em Zurique e com Cari Jaspers na Basiléia. Um ano depois, vai ao
Magreb africano com André Rey para estudar um grupo de crianças. A partir dessa
oportunidade e durante muitos anos, realizou a avaliação de milhares de
crianças que iriam emigrar para Israel, com André Rey e um grupo de psicólogos
ligados a Piaget.
Estudou na
Universidade de Genebra, sob a coordenação de Jean Piaget, Barber Inhelder e
Marguerite Loosli Usteri. Assistiu a seminários de L. Szondi e Cari Jaspers.
Recebeu o diploma de Psicologia Geral e Clínica em 1952. Em 1954, licenciou-se
em Psicologia. Em 1970, Feuerstein obteve o grau de doutor em Psicologia do Desenvolvimento
na Universidade de Sorbonne, em Paris.
De 1970 até
os dias atuais, Feuerstein é professor de Psicologia da Universidade de Bar
Ilan, no setor de Educação, em Ramat Gan, Israel. Desde 1978, é professor
adjunto da Universidade de Vanderbilt, na Faculdade de Educação Peabody, nos
Estados Unidos.
Fundou com
os professores David Krasilowsky, Ya'acov Rand e Shimon Tuchman o Instituto de
Pesquisa Hadassah-Wizo-Canadá de Jerusalém, atualmente Centro Internacional de
Melhoria do Potencial de Aprendizagem (The International Center for the
Enhancement of Learning Potential - ICELP), instituição que pesquisa a
aplicação de seus métodos e programas e atende crianças com diversos problemas
de desenvolvimento.
Em 1980,
publicou o Programa de Enriquecimento Instrumental - PEI (Feuerstein
Instrumental Enrichment - FIE) e seu modelo de psicodiagnóstico, a Avaliação
Dinâmica do Potencial de Aprendizagem (Learning Potential Assesment Device -
LPAD). Nesses textos, suas teorias educacionais são transformadas em sistemas
de intervenção e avaliação.
Nas últimas
décadas têm dedicado especial atenção a pessoas com Síndrome de Down. Em 1988,
lançou sua última obra, Don ’t accept me as Iam. Helping “retarded"people
to excel, que sintetiza suas pesquisas e, além disso, mostra suas teorias e
sistemas de avaliação, intervenção e manutenção aplicadas a essas pessoas. A
fotografia apresentada a seguir (Tribus, 2007) é de um jovem soldado da Força
de Defesa de Israel. Ele fez as cirurgias no rosto, propostas neste livro, quando
criança, para evitar discriminações quando adulto. Participou da LPAD e do PEI
e é um cidadão autônomo e defensor de sua pátria!
Nesses
últimos anos, Feuerstein semeou suas idéias pelo mundo todo e recebeu
reconhecimento universal em relação a seu trabalho, através de inúmeras
honrarias.
2.3 Experiências significativas de vida:
provável gênese de suas teorias.
2.3.1 A mãe intermediadora.
Reuniões
intencionalmente planejadas pela mãe de Feuerstein eram desenvolvidas, aos
sábados, junto a seus filhos. Ela pedia que fossem resgatadas as experiências
de aprendizagem relevantes acontecidas desde o último encontro: cada um narrava
com detalhes o que tinha aprendido, de que maneira isso tinha acontecido e que
dificuldades tinham sido superadas. A importância dessas experiências e suas
possíveis aplicações em outras situações eram estabelecidas pela mãe, que,
certamente, era exímia perguntadora.
Uma análise,
mesmo rápida, dessas reuniões semanais, relacionadas a aspectos culturais da
comunidade judaica, podem indicar eventos relevantes que ajudariam na resolução
de problemas enfrentados posteriormente, por Feuerstein. Usar informações
resgatadas do passado para explicar o presente e preparar para o futuro era
praticado, em pequena escala, pelas crianças quando narravam suas aprendizagens
recentes. Além desse aspecto cultural específico ligado ao respeito pelo
passado, esses encontros estavam muito relacionados à questão da transferência
de aprendizagens: relembrar e aplicar, sempre acompanhados pela valorização das
aprendizagens e pela ampliação de seus significados. Essa intermediação
intencional junto as crianças, o que elas haviam aprendido, o valor dessas
aprendizagens e as possibilidades de aplicação futuras, devem ter marcado
profundamente o menino Reuven e seus irmãos.
Além da
participação nesses encontros, Feuerstein teve acesso a modelos de
intermediação desenvolvidos por sua mão junto a crianças órfãs. A diferença de
desempenho dessas crianças quando comparado com o desempenho de seus irmãos e
dele próprio deve ter chamado sua atenção, como fato relevante.
2.3.2 A crença na modificabilidade das pessoas.
O fato do
pequeno Reuven aprender a ler os textos sagrados muito cedo, aos três anos,
indica que seus avós, seus pais e seus irmãos mais velhos acreditavam que ele
seria capaz de realizar esse desafio.
Na escola,
aos sete anos, era chamado com freqüência para ajudar seus colegas de classe
que apresentavam dificuldades para ler e compreender textos escritos. Nessa
época, ensinou um jovem de quinze anos, considerado o “tolo da cidade” a ler.
Essa experiência é considerada por Feuerstein (Longhi, 1996; e Zanatta Da Ros,
2002) como um momento de revelação: as pessoas são modificáveis e é possível
mediá-las com tal finalidade! Pouco tempo depois, aos nove anos, teve a
oportunidade de demonstrar a crença na modificabilidade do ser humano ao
ensinar um homem de sessenta anos a ler a bíblia.
Esses
eventos aconteceram na década de 1920 e manifestam a crença, demonstrada pela
família de Feuerstein e por ele próprio, na possibilidade de aprendizagem das
pessoas: crianças muito pequenas, crianças com dificuldades de aprendizagem,
jovens com necessidades especiais de educação e idosos.
2.4 Crenças, teorias e sistemas de avaliação,
intervenção e manutenção.
Coube a Feuerstein
o desafio de educar centenas de crianças e jovens, órfàos da guerra, para que
se tomassem cidadãos autônomos e produtivos. Não era uma tarefa acadêmica que
envolvia apenas interesses intelectuais. Tratava-se, na realidade, de pesquisa
urgente para encontrar meios para salvar essa pessoas.
A partir de
sua visão de mundo, de seu sistema de crenças e do resgate de experiência
prévias relevantes, Feuerstein criou duas teorias: Teoria da Modificabilidade
Cognitiva Estrutural -MCE (Structural Cognitive Modifiability - SCM) que
apresenta como aspecto fundamental o conceito de modificabilidade, qualidade
inerente e essencial de todo o ser humano, percebida muito cedo por ele; e,
Teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada - EAM (Mediated Learning Experience
- MLE) que estabelece o mediador humano como determinante do desenvolvimento
cognitivo das pessoas e que teve, provavelmente, como ponto de partida, suas
próprias experiências de vida intermediadas por sua mãe, seus familiares e
professores e, por ele próprio, como mediador de outras pessoas.
Além dessas
teorias, Feuerstein criou três sistemas inter-relacionados de avaliação,
intervenção e manutenção: Avaliação Dinâmica do Potencial de Aprendizagem
(Leaming Potential Assesment Device - LPAD), Programa de Enriquecimento
Instrumental - PEI (Feuerstein Instrumental Enrichment - FIE) e Modelagem de
Ambientes Modificadores - MAM (Shaping Modifying Environments - ME).
Recentemente, junto com seu filho Rafi, criou a LPAD-Básica e o PEI-Básico para
avaliar e realizar intervenções em crianças de três a sete anos.
É importante
chamar a atenção para a influência de Piaget e de André Rey na criação dos
sistemas de avaliação e intervenção. Begab (Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller,
1980, p. xi) declara: “A teoria da experiência de aprendizagem mediada e sua
expressão no sistema de conteúdos livres, de exercícios mentais, apresentado
como Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) é baseado em muitos
componentes da teoria piagetiana e nas descobertas clínicas de André Rey.” Além
disso, Begab complementa: “Feuerstein acrescentou que o determinante do
desenvolvimento cognitivo não é parte da teoria de Piaget e, mais importante,
converteu um sistema descritivo num outro sistema, instrucional e operacional.”
Como sua
intenção não era apenas acadêmica, Feuerstein se preocupou também com aspectos
didáticos incluídos em seu projeto educacional. Criou, a partir de suas
teorias, o Mapa Cognitivo e os Critérios de mediação, ferramentas essenciais
para a análise de tarefas e do planejamento das atividades educacionais de
avaliação, intervenção e manutenção. Estabeleceu operações e funções cognitivas
que se constituem em parâmetros nucleares da análise de tarefes e selecionou o
desenvolvimento de perguntas previamente elaboradas como meio básico do
processo de mediação. Estabeleceu, ainda e de forma bem detalhada, a estrutura
e a duração de sessões da LPAD e de aulas de PEI.
2.5 Final feliz.
Resgatar a
cidadania dessas pessoas foi missão complexa com resultados inesperados.
Feuerstein avaliou o potencial de aprendizagem das pessoas com a LPAD e a
partir dos resultados dessa avaliação aplicou o PEI. O final da história foi
feliz: crianças e jovens sob sua responsabilidade tomaram-se cidadãos normais,
úteis e produtivos.
3. A proposta educacional de Feuerstein:
aspectos teóricos.
Como já foi
citado, diante de necessidades reais de transformar o desempenho cognitivo e
resgatar a cidadania de um grupo de pessoas, que apresentavam atraso em relação
à sua exposição a estímulos e experiências de vida, Feuerstein criou - a partir
de sua visão de mundo, de um conjunto de crenças por ele estabelecido e de sua
experiência - duas teorias: Modificabilidade Cognitiva Estrutural (MCE) e
Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM) e três sistemas inter-relacionados:
Avaliação Dinâmica do Potencial de Aprendizagem (LPAD), Programa de
Enriquecimento Instrumental (PEI) e Modelagem de Ambientes Modificadores .
(MAM). Repetindo mais uma vez, Feuerstein criou:
Em seguida
serão apresentados, de forma reduzida, o sistema de crenças de Feuerstein, a
teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural (MCE) e seu sistema
inter-relacionado de manutenção (MAM); e , com detalhes, a teoria da
Experiência de
Aprendizagem
Mediada (EAM), os sistemas de avaliação (LPAD) e de intervenção (PEI) e os
demais elementos de sua proposta educacional.
3.1 Sistema de crenças.
A Teoria da
Modificabilidade Cognitiva Estrutural (MCE) tem como base um sistema de crenças
construído por Feuerstein, a partir de experiências de vida relevantes, para
resgatar a cidadania de crianças e jovens sobreviventes da segunda grande
guerra. Feuerstein e Feuerstein, Rafi (2002, p. 14) assim se manifestam sobre o
assunto:
Mesmo agora,
de posse de dados que confirmam a teoria da MCE e diante do fato de que dados
empíricos e
novos desenvolvimentos teóricos dão suporte à idéia da modificabilidade humana,
é
nossa
convicção que esse sistema de crenças que iniciou e deu-lhe origem é um de seus
importantes
ingredientes
Tebar
(1998a, p. A-5 e 2003, p. 54) assim reproduz as crenças de Feuerstein:
¾ Crê no ser humano como criatura digna de
alcançar sua plenitude humana e de receber todos os cuidados e mediação a nossa
disposição. O centro de seu trabalho.
¾ Toda pessoa é suscetível de ser modificada com
a ajuda de um mediador.
¾ A inteligência pode crescer, pode
desenvolver-se.
¾ Pode-se modificar estruturalmente a pessoa
através de uma experiência de aprendizagem mediada.
¾ Todo mediador do PEI deve acreditar na
modificabilidade das pessoas.
¾ Podemos contradizèr todo determinismo genético,
pois não há nada no ser humano que esteja definitivamente fixado.
¾ Podemos elevar o potencial de aprendizagem.
¾ A mediação é o caminho imprescindível para a
transmissão dos valores.
¾ Podemos ensinar a pensar através de uma
metodologia que leva em conta critérios e leis de aprendizagem: ensino da
metacognição, busca de estratégias, planejamento do trabalho, alto nível de
abstração, aplicação das aprendizagens à vida...
3.2 Teoria da Modificabilidade Cognitiva
Estrutural (MCE).
3.2.1 Teoria da Modificabilidade Cognitiva
Estrutural: uma hipótese teoricamente plausível.
A teoria da
Modificabilidade cognitiva estrutural toma-se, de acordo com Feuerstein e
Feuerstein, Rafi (2002, p. 15), uma “hipótese teoricamente plausível” tendo
como base três pressupostos: a concepção de ontogenia dupla do ser humano; a
definição modal do desempenho humano como um estado, não podendo ser entendido
como alguma coisa fixa e imutável; e, a atual concepção neurocientífica do
cérebro humano como organismo flexível e elástico.
Em detalhes,
o primeiro pressuposto:
A ontogenia
do organismo humano é resultado da interação entre a ontogenia biológica, ou
seja, percepção do ser humano “como uma comunidade de células interagindo
agitadamente entre si e com o ambiente”, buscando tomar-se um indivíduo; e, a
ontogenia sociocultural, entendida como “responsável pela estrutura social,
moral e comunicacional do ser humano”, formando a pessoa. A relação entre essas
duas ontogenias caracteriza-se pelo conflito entre os limites impostos pelo
componente biológico e a busca da liberação do ser humano desses limites, pelo
componente sociocultural “modificando e criando novos rumos de vida, apesar da
imposição, mas contra tal imposição da realidade biológica, neurológica e
cromossômica.”
Supondo-se
uma única pessoa, tem-se graficamente:
B: Biológica, S: Sociocultural e O: Ontogenia
do ser humano.
Três
exemplos para ilustrar o desenvolvimento de pessoas ou animais em situações em
que a ontogenia dupla é afetada.
O primeiro
fala da possibilidade de crianças não serem criadas em ambientes humanos.
Rischbieter (2003) em seu texto A triste história das crianças lobo ou Nem só
de genes vive o homem fala de Amala e Kamala, duas meninas completamente
selvagens, criadas por lobos, no norte da índia, em 1920. Quando resgatadas da
alcatéia, o comportamento das duas crianças causou espanto, pois
movimentavam-se apenas de quatro, não falavam, tinham os rostos inexpressivos,
comiam apenas carne crua e não aceitavam o contato com seres humanos. Cita
também conclusão de Malson (1967) que merece ser reproduzida: "Será
preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que
aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais
ilumina o rosto das crianças isoladas”
O segundo
exemplo trata da possibilidade de mediação entre espécies. De acordo com
Feuerstein e Feuerstein, Shmuel (1994, p. 12), Francine Patterson, da Gorilla
Foundation, desenvolveu projeto, no qual ensinou à gorila Koko e ao gorila
Michael, a linguagem de sinais, usando a EAM no processo de aprendizagem,
considerada pela equipe de pesquisa como parte relevante no sucesso do projeto.
Os gorilas
foram continuamente expostos a comunicação bilingüe com o inglês sendo falado
ao mesmo tempo que os sinais estavam sendo usados. Koko e Michael se
comunicavam de maneira regular com a linguagem de sinais aprendida e Michael
até demonstrou conhecer sinais que somente Koko poderia ter-lhe ensinado.
O Estado de
São Paulo (ANSA, 1998a e b), convidou seus leitores para dialogar com Koko,
pela internet. Cerca de 20000 perguntas chegaram por meio da rede para a
gorila. Francine selecionou 20 e as traduziu à linguagem dos sinais para Koko.
“Perguntada sobre a bebida preferida respondeu: ‘Suco de maçã’. Depois de 45
minutos de ‘entrevista’, Koko perdeu o interesse e começou a brincar com uma
boneca, pondo fim à primeira conversa interespécies da história da Internet”. A
“entrevista” completa está disponível em The Gorilla Foundation (2006).
Finalmente,
no terceiro exemplo, Feuerstein e Feuerstein, Rafi (2002, p. 14 e p. 15)
concluem:
O nível da
operação cognitiva da criança com síndrome de Down é amplamente determinada por
sua condição cromossômica; no entanto, a intervenção social e educacional pode
transformar significativamente as restrições produzidas pelos cromossomos, como
apontado por um jornalista do Le Monde: ‘O cromossomo não tem a última
palavra’. Dito de outro modo, nesse diálogo entre a ontogenia sociocultural e a
ontogenia biológica, a primeira de fato, tem a última palavra.
3.2.2 Piaget, Feuerstein e Vygotsky.
Para Piaget,
o desenvolvimento acontece em uma interação não assistida entre os esquemas
mentais da pessoa e os objetos presentes no mundo externo (Kozulin, 1998). Além
disso, Piaget (1969: p. 161) afirma de forma clara:
Um terceiro
grande fator que é classicamente invocado nas explicações do desenvolvimento é
a ação dos fatores sociais e, principalmente, da linguagem. Esses fatores são,
está claro, necessários ao acabamento das estruturas operatórias,
particularmente no nível das operações proposicionais ou formais. Mas eles não
lhe constituem a fonte, [...].
Feuerstein
afasta-se de Piaget ao enfatizar a ontogenia sociocultural como principal
responsável pelo desenvolvimento cognitivo das pessoas. Para Feuerstein, o
desenvolvimento se dá de maneira mais efetiva quando acontecem interações entre
a pessoa e os objetos que o cercam e entre sua resposta e ela mesmo, mediadas
intencionalmente por outro ser humano. A respeito desse tema, Feuerstein declara
(Longhi, 1996, p. 23 e Tebar (1998b, p. A-2 e 2003, p. 371):
A partir
desse momento, toda minha formação, minhas experiências, vão convergir para
definir meus princípios educacionais, minhas teorias sobre a modificabilidade
cognitiva estrutural e sobre a mediação. O encontro com Piaget me levou a
escolher sua escola...: ‘Os fatores determinantes do desenvolvimento, disse
Piaget, são os cognitivos’; e eu acrescento que é impossível separar o fator
cognitivo do fator emocional, afetivo. [...] Ele não aceitou minhas teorias. De
fato, a intenção, a subjetividade do mediador não foi reconhecida.
Ao se
afastar, nesse ponto, de Piaget, Feuerstein se aproxima das idéias de Vygotsky
(Oliveira, 1999) que afirma que a aprendizagem acontece quando existe colaboração
entre a criança e adultos ou companheiros mais experientes que introduzem
ferramentas culturais e ensinam a organizar e a controlar suas funções
psicológicas naturais.
Além disso,
Vygotsky propõe algo semelhante à dupla ontogenia do ser humano: a interação
entre vários planos históricos: filogênese (história da espécie), sociogênese
(história do grupo cultural), ontogênese (história do indivíduo pertencente à
espécie) e microgênese (história de evento significativo incluída na
ontogênese). Assim, a ontogênese seria o resultado da interação entre a
filogênese e a sociogênese.
F: Filogênese, S: Sociogênese, O: Ontogênese e
M: Microgênese
A grande
diferença entre o ponto de vista de Piaget e a posição adotada por Feuerstein e
Vygotsty, de acordo com Kozulin (1998) encontra-se na definição de quem é e ou
o que é responsável pelo desenvolvimento das pessoas: o primeiro focaliza a
reestruturação interna do pensamento da criança (de dentro para fora) enquanto
que os outros dois enfatizam a influência do modelo sociocultural (de fora para
dentro). As implicações educacionais dessas duas posturas são bastante
divergentes.
3.2.3 Analise do conceito de modificabilidade e
de suas relações com outros conceitos.
A teoria da
Modificabilidade Cognitiva Estrutural apresenta, de acordo com seu criador
(Feuerstein, 1997), um ponto de partida diferente e otimista sobre o processo
de desenvolvimento dos seres humanos. Essa teoria postula que o organismo
humano é dotado de plasticidade e flexibilidade, em tal ordem, que permite um
elevado grau de modificabilidade, o que toma imprevisível o seu
desenvolvimento, não assumindo, portanto, um ponto de vista fixo e imutável
sobre inteligência, personalidade, caráter, constituição e de outra realidades
normais e patológicas. Para ele, nada estaria previamente definido na vida de
uma pessoa.
Feuerstein,
Rand e Rynders (1988) definem cinco postulados sobre a modificabilidade dos
seres humanos:
1.Todos os
seres humanos são modificáveis, sem exceção: apesar de qualquer obstáculo préconcebido
(condições inatas); mesmo que a pessoa tenha problemas etiológicos (Síndrome de
Down, por exemplo); mesmo que tenha idade avançada; e, mesmo que tenha séria
restrição ou incapacidade física e ou mental.
2.Até mesmo
‘aquele aluno’ é modificável: não existe exceção ao primeiro postulado.
3.Eu posso
ajudar meu aluno a modificar-se.
4.Eu,
mediador, sou modificável.
5.O
ambiente, a sociedade e o contexto social no qual estamos inseridos (mediador e
mediados) são modificáveis.
3.2.3.1 O
conceito de modificabilidade.
De acordo
com Feuerstein (1997, p. 11), o conceito de modificabilidade é equivalente ao
de potencial de aprendizagem e tende a substituir a idéia tradicional de
inteligência humana. Essa teoria define inteligência como “propensão ou
tendência do organismo a ser modificado em sua própria estrutura, como resposta
à necessidade de adaptar-se a novos estímulos, sejam de origem interna ou
externa”. Esse conceito deve diferenciar-se da idéia de mudança, uma vez que,
mudança relaciona-se com diferentes fases do desenvolvimento, crescimento e
maturação da pessoa, sendo assim um fenômeno previsível. A modificabilidade,
fenômeno marcado pela imprevisibilidade, pode levar a pessoa a desviar-se
completamente de qualquer trajetória predeterminada em função de diferentes
fatores sociais e ambientais.
3.2.3.2 O
aspecto cognitivo da modificabilidade.
Quando
Feuerstein qualifica modificabilidade como cognitiva, conforme Sasson (1997),
ele não deixa de lado os aspectos afetivos, emocionais e motivacionais do ser
humano.
Ele
considera a cognição como condição-chave para o sucesso da adaptação sendo
assim, ponto de partida mais eficaz para a intervenção. Tal decisão baseia-se
em alguns argumentos: o domínio cognitivo presta-se mais facilmente à pesquisa;
o trabalho com os componentes emocionais do desempenho das pessoas,
responsáveis ou não pela feita de adaptação e pelo funcionamento global
inadequado, poderia gerar resistência ou fazer com que as pessoas se sentissem
ameaçadas ou “invadidas”; e, as pessoas, uma vez equipadas com ferramentas
cognitivas, costumam manifestar uma disposição razoável para abordar, por sua
própria vontade, os aspectos afetivos envolvidos em suas dificuldades.
É relevante
relembrar trecho de Feuerstein (Longhi, 1996 e Tebar, 1998b e 2003), já citado,
sobre sua posição em relação aos aspectos afetivos e emocionais: “ Os fatores
determinantes do desenvolvimento, disse Piaget, são os cognitivos’; e eu
acrescento que é impossível separar o fator cognitivo do fator emocional,
afetivo.”
3.2.3.3 A
natureza estrutural da modificabilidade.
Para Sasson
(1997, p. 179), Feuerstein considera a estrutura psicológica como “um sistema
composto por vários elementos interconectados que se afetam mutuamente”. A
modificabilidade cognitiva não pode ser considerada estrutural, isto é,
permanente, a menos que apresente três características: relações claras entre o
todo e a parte, que se apresente como processo de transformação e que demonstre
tendência para a auto-perpetuação desse processo.
A relação
entre o todo e a parte: os efeitos da intervenção somente serão considerados de
natureza estrutural se não estiverem limitados ao domínio específico do
funcionamento cognitivo e se forem perceptíveis em outras áreas ou subsistemas
adicionais de toda a estrutura.
Tendência a
constituir-se num processo de transformação: quando ocorre uma mudança de
natureza estrutural, a pessoa “transforma” seu desempenho conservando, no
entanto, a estrutura básica, que é ampliada para permitir a integração de novos
estímulos. Assim, uma mudança quantitativa sem nenhuma outra relação com a
estrutura existente, não seria uma transformação estrutural. Por outro lado, a
transformação qualitativa da estrutura em seu conjunto, que integra os novos
estímulos adquiridos, seria uma transformação estrutural.
A natureza
auto-perpetuadora e auto-reguladora dos processos de transformação: tendência
que esse processo possui de perpetuar-se e regular-se para além do momento em
que o organismo foi inicialmente exposto à situação estimuladora. A auto-perpetuação
abrange a retenção, conservação e expansão dos novos elementos adquiridos. Já a
auto-regulação se refere à transferibilidade e adaptabilidade das aquisições
recentes, que estariam disponíveis para a pessoa quando diante de situações
novas, diferentes ou modificadas.
3.3 Teoria da Experiência de Aprendizagem
Mediada (EAM).
3.3.1Um pouco de história.
O
desenvolvimento da teoria da EAM aconteceu entre 1950 e 1963, a partir do
contato de Feuerstein, na França, com milhares de crianças que estavam sendo
examinadas e preparadas para emigrarem para Israel. Um grande número delas
demonstravam disfunções cognitivas e dificuldades escolares, identificadas a
partir de seus desempenhos diante das tarefas de Piaget e de outras tarefas
cognitivas (criadas por André Rey, por exemplo). Foi possível classificar essas
crianças em duas categorias: pessoas culturalmente diferentes e pessoas com
privação cultural, a partir da comparação desses resultados com os resultados
obtidos pelas crianças de Genebra. As pessoas culturalmente diferentes eram
capazes de serem modificadas diante do contato direto e autônomo com as
tarefas, sem a necessidade de investimentos especiais dos avaliadores. Isso não
acontecia, no entanto, com as pessoas privadas culturalmente: elas necessitavam
de investimentos especiais que ultrapassavam e muito o que os avaliadores
estavam acostumados a fazer.
O que é
evidente é que os ‘privados’ culturalmente tinham que ‘aprender a aprender’ por
meio da mediação. Nós definimos este grupo como sendo ‘culturalmente privado’
porque ele não tinha sido exposto à sua própria cultura e por isso tomou-se
incapaz de tirar proveito da exposição direta às fontes de estímulos.
(Feuerstein e Feuerstein, Shmuel, 1994, p. 5).
Um exemplo
para esclarecer melhor a questão da quantidade de investimento dos avaliadores.
O teste das figuras complexas de André Rey (Rey, 1999) foi aplicado nessas
crianças. Esse teste prevê duas etapas: cópia de uma figura e reprodução de
memória dessa figura. Ao final da segunda etapa o avaliador pergunta: “Como
seria preciso começar o desenho para que cada detalhe ficasse colocado
corretamente? Desenhe aqui as linhas que constituem o melhor ponto de partida.”
A versão do teste das figuras complexas de Rey apresentada por Feuerstein, Rand
e Haywood (1993), prevê cinco fases: primeira cópia, primeira reprodução de
memória, mediação, segunda cópia e segunda reprodução de memória. Na fase de
mediação, onde se pretende que os avaliados aprendam princípios para aplicá-los
ou não nas outras fases, além da frase acima prevista por André Rey, chamada
por Feuerstein de mediação mínima, existem outros três níveis superiores de
medição. “Discussões com Rey, que participou ativamente dessa pesquisa, e com o
grupo de ‘Piaget’ foram úteis para definir o problema e posteriormente para
delinear a teoria da EAM.” (Feuerstein e Feuerstein, Shmuel, 1994, p.4 e p. 5).
Além disso, forneceu, claramente, as bases para a construção formal do sistema
de avaliação, a LPAD e, em conseqüência, a elaboração, também formal, do
sistema de intervenção, o PEI.
3.3.2 Duas modalidades de interação.
Para
Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller (1980) o desenvolvimento da estrutura
cognitiva no organismo é resultado de duas modalidades de interação, igualmente
importantes, entre o organismo e seu meio: a exposição direta a fonte de
estímulos e a experiência de aprendizagem mediada.
Na exposição
direta a fonte de estímulos, os estímulos que agem sobre o organismo fazem isso
ao acaso, de modo direto e não mediado. Os estímulos aparecem e desaparecem de
modo assistemático a partir de aleatoriedade dupla, ou seja, ou tendo como base
características próprias dos estímulos ou em função da prontidão do organismo
em percebê-los. Embora incidental, esse tipo de interação se constitui numa fonte
significativa de mudanças que afeta o funcionamento cognitivo e emocional das
pessoas. A exposição direta aos estímulos, tal como propõem os
comportamentalistas em seu esquema E —> R e o esquema EOR, proposto por
Piaget, não explicam por que, “apesar de experiências similares, as pessoas
reagem diferentemente.“ (Feuerstein e Feuerstein, Shmuel, 1994, p. 13).
Experiência
de aprendizagem mediada é definida por Feuerstein e Feuerstein, Shmuel (1994) e
Feuerstein (1997) como a qualidade da interação entre o organismo e o meio em
que está inserido. Essa qualidade é resultado da interposição intencional de um
ser humano que medeia a percepção e a análise dos estímulos do meio pelo
organismo, além de mediar, também, as respostas do organismo em relação a ele
mesmo. O esquema E O R é, então, ampliado para E H O H R, com a interposição do
mediador humano H.
É importante
ressaltar que o papel do mediador humano não está previsto por Piaget e nem
suficientemente elaborado dentro da proposta de Vygotsky. Esta lacuna teórica é
preenchida pela EAM de Feuerstein.
Representando
as propostas por esquemas:
Para Piaget
(1972, p. 13 e p. 14), mediadores são instrumentos invariantes de troca:
conservação de substância, massa e volume; agrupamentos de classes e relações;
operações espácio-temporais; e, operações preposicionais. Ele explica assim:
De uma
parte, o conhecimento não procede, em suas origens, nem de um sujeito
consciente de si mesmo nem de objetos já constituídos (do ponto de vista do
sujeito) que a ele se imporiam. O conhecimento resultaria de interações que se
produzem a meio caminho entre os dois, dependendo, portanto, dos dois ao mesmo
tempo, mas em decorrência de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio
entre formas distintas. De outro lado, e, por conseguinte, se não há, no
início, nem sujeito, no sentido epistemológico do termo, nem objetos concebidos
como tais, nem, sobretudo, instrumentos
invariantes de troca, o problema inicial do conhecimento será pois o de
elaborar tais mediadores. A partir
da zona de contato entre o corpo próprio e as coisas eles se empenharão então
sempre mais adiante nas duas direções complementares do exterior e do interior,
e é desta dupla construção progressiva que depende a elaboração solidária do
sujeito e dos objetos, (negritos nossos)
Piaget
(1970) propõe uma ilustração para facilitar a compreensão do exposto acima. O
organismo será representado por um pequeno círculo incluído num círculo maior
que, por sua vez, representa o meio ambiente. O organismo e o meio ambiente se
tocam no ponto A e em todos os pontos análogos, isto é, pontos pertencentes à
circunferência menor que limita os dois círculos. Esses pontos são, ao mesmo
tempo, os pontos mais exteriores ao organismo e ao meio ambiente. Desse ponto
comum e de indiferenciação, o conhecimento avança em duplo sentido: da
exteriorização (domínio da experiência física: —> Y) e da interiorização
(conscientização do próprio funcionamento intelectual —> X).
Vygotsky
(Oliveira, 1994) afirma que a aprendizagem acontece quando existe colaboração
entre a criança e adultos ou companheiros mais experientes que introduzem
ferramentas simbólicas e ensinam a organizar e a controlar suas funções
psicológicas naturais através dessas ferramentas culturais.
Segundo
Kozulin (1998), uma contribuição relevante do mediador humano, conforme
Feuerstein, é a de transformar uma situação de aprendizagem de incidental em
intencional, de tal maneira que a pessoa experimente determinadas situações
selecionadas intencionalmente e não apenas as perceba aleatoriamente. A
transcendência é outro dos parâmetros essenciais na aprendizagem mediada. Se
numa situação de aprendizagem direta o que se pode esperar é que determinada
interação afete a cognição da pessoa além da tarefe imediata realizada, na aprendizagem
mediada. Ir mais além do presente constitui a verdadeira essência da interação.
O mediador humano indica as possibilidades globais que se encontram na solução
concreta de um problema e estimula a formação de pontes ou transcendências
entre a tarefe imediata e outras áreas de experiência. Ainda, as interações da
criança com o mundo deve ser dotado de significado, significado esse que não
pode ser percebido pela simples observação de objetos e processos.
3.3.3 Relação entre a EAM e a exposição direta ao
estímulo.
Feuerstein
(Mentis, Skuy, Arnott, Dunn, Durbach e Mentis, Marténe, 1997, p. 19) chama a
atenção para o significado da EAM quando afirma que:
A relação
entre a EAM e a exposição direta, as duas modalidades para o desenvolvimento da
estrutura cognitiva, pode ser formulada da seguinte maneira: quanto mais um
organismo é submetido a EAM e quanto mais intenso e eficaz for o processo de
mediação, maior será sua capacidade de se beneficiar e se tomar modificável
pela exposição direta ao estímulo.
Em outras
palavras, o objetivo da EAM é melhorar o desempenho do organismo nas suas
futuras interações autônomas com o meio ou, como costuma declarar Feuerstein em
suas palestras sobre o assunto: “O mediador entra no processo para sair.“
O esquema
que descreve uma situação de aprendizagem mediada proposto por Feuerstein é
apresentado novamente, adaptado e simplificado:
Demaldé
(1998) utiliza-se de outra forma de apresentação do esquema de Feuerstein com a
intenção de facilitar o entendimento do processo de interação da pessoa com o
mundo e da função do mediador humano.
3.3.4 Os parâmetros de uma experiência de
aprendizagem mediada.
São doze os
estilos de interação que podem ser planejados e realizados pelo mediador junto
aos mediados, propostos por Feuerstein, até o momento:
1.Mediação
da intencionalidade e reciprocidade.
2.Mediação
da transcendência.
3.Mediação
do significado.
4.Mediação
do sentimento de competência.
5.Mediação
da regulação e do controle do comportamento.
6.Mediação
sobre o comportamento de compartilhar.
7.Mediação
da diferenciação individual e psicológica.
8.Mediação
da busca, planejamento e alcance dos objetivos.
9.Mediação
do desafio: busca de coisas novas e mais complexas.
10.Mediação
sobre a conscientização das pessoas em relação à sua modificabilidade cognitiva
e às mudanças estruturais ocorridas.
11.Mediação
do otimismo.
12.Mediação
do sentimento de pertinência.
Desses doze
critérios de mediação, os três primeiros (Feuerstein e Feuerstein, Shmuel,
1994) são essenciais e devem estar sempre presentes numa interação para que
possa ocorrer verdadeiramente uma experiência de aprendizagem mediada; os
demais não são condições absolutamente necessárias para caracterizar sua
ocorrência. Assim, os três primeiros são diretamente responsáveis pelo que
todos os seres humanos possuem em comum: a possibilidade de modificar sua
inteligência, ao passo que os outros refletem o processo de diversificação da
humanidade em termos de estilos cognitivos, sistemas de necessidades,
motivações, por exemplo.
3.3.5 A EAM e suas relações com a LPAD, o PEI e
a MAM.
O processo
de mediação acontece nesses três sistemas com objetivos e intensidades diferentes:
3.3.5.1 na LPAD a mediação é, em geral, pouco intensa
e acontece em função das dificuldades das pessoas, uma vez que sua finalidade é
avaliar desempenhos cognitivos;
3.3.5.2 no PEI, tendo como base a avaliação inicial
realizada (funções cognitivas deficientes identificadas, tipo e quantidade de
mediação necessária estabelecidos e reação ao ensino de estratégias
verificada), a mediação será quase sempre intensa, uma vez que sua finalidade é
modificar desempenhos (corrigir funções cognitivas deficientes, desenvolver
vocabulário, por exemplo); e,
3.3.5.3 na MAM, a mediação é gradual, intensa e
acontece em função das dificuldades das pessoas, uma vez que sua finalidade é a
manutenção de desempenhos já avaliados e já estabelecidos durante intervenção,
diante de situações da vida real.
3.3.6 Comentários de Feuerstein e Feuerstein,
Shmuel (1994, p. 50) sobre a EAM:
1)A EAM não
deveria ser considerada a única influência efetiva no desenvolvimento da
pessoa. Tanto a exposição direta da pessoa aos estímulos quanto a EAM são
necessárias para criar os pré-requisitos do pensamento, a flexibilidade exigida
para a adaptação e a base de conteúdo para o funcionamento operacional. O
professor não deve nunca agir somente como mediador mas deve também atuar como
fonte de informação e de habilidades. Em outras palavras, o aluno não deve ser
exposto unicamente à EAM. Durante a vida da pessoa, a EAM ocorre somente num
pequeno segmento de sua interação com o ambiente.
2)Não se
deve considerar que a EAM ocorreu a não ser quando o
ciclo —
estímulos - mediador - mediado — tenha verdadeiramente sido fechado. Todas as
vezes que a EAM estiver limitada por razões ligadas ao mediador, aos estímulos
ou ao mediado, o processo não pode ser estabelecido e a EAM não acontece, O
fato de o efeito esperado não aparecer como deveria, justifica-se pelo fato de
a EAM não ter sido vivenciada como deveria ter sido.
3)O que se
deduz do que foi exposto acima é que não existe modo de descrever a EAM como
algo fixo que possa ser aplicado automática, mecânica e uniformemente para
todas as pessoas. Uma vez que a EAM representa a qualidade da interação mais do
que um conteúdo particular, essa qualidade depende da configuração total
envolvida na interação mais do que estivesse envolvida num conteúdo particular.
O como a EAM se processa depende de quem está mediando quem e do conteúdo
particular da intervenção mediacional (o que). Isso coloca um grande peso na
compreensão da base teórica da EAM como fonte de flexibilidade. A pessoa que
dominar os parâmetros da EAM conquistará um grande grau de liberdade para
influenciar a interação humana e introduzir os tipos de mudança que melhor se
adapte a ela.
3.4 Avaliação Dinâmica do Potencial de
Aprendizagem (LPAD)2.
3.4.1 Avaliação do potencial de aprendizagem.
O conceito
de potencial de aprendizagem diz respeito a um fenômeno muito comum: crianças,
jovens, adultos e idosos possuem competência para pensar e agir de forma
inteligente muito maior do que é demonstrado por eles diante de situações
cognitivamente desafiadoras. Esse conceito envolve dois aspectos que merecem
ser destacados: os processos cognitivos e as estratégias de solução de
problemas presentes no repertório da pessoa não são utilizados de forma eficaz;
e, a experiência de aprendizagem mediada e ou necessidades específicas da
situação provocam nas pessoas desempenhos que não existiam em seus repertórios.
Além disso, “a avaliação do potencial de aprendizagem requer ênfose sobre os
processos de aprendizagem que, por sua vez, exige a observação direta desses
processos em situações que requerem aprendizagem.” (Feuerstein, Rand e Haywood,
1993, p. 10).
3.4.2Avaliação dinâmica da aprendizagem.
A avaliação
dinâmica da aprendizagem diz respeito a um particular enfoque interativo, na
condução de avaliações formativas em psicologia, fala/linguagem e educação, que
enfatiza a habilidade da pessoa avaliada, em responder a uma intervenção
(Dynamic Assessment, 2006). Sendo assim, o ensino e a aprendizagem constituem
parte nuclear desse processo de avaliação.
São três as
etapas características da avaliação dinâmica: pré-teste, aprendizagem mediada e
pós-teste. No pré-teste, observa-se e registra-se o desempenho da pessoa diante
da tarefa; na segunda etapa é realizada uma experiência de aprendizagem mediada
para ensinar ou modificar princípios e estratégias ligados à tarefa; e, no
pós-teste, a pessoa tem a oportunidade de aplicar os princípios adquiridos.
3.4.3 A LPAD, seus objetivos e instrumentos.
A LPAD
(Feuerstein, Rand e Haywood, 1993, p. 14) é um sistema estruturado de avaliação
cujo objetivo amplo é Avaliar a propensão para a modificabilidade (potencial de
aprendizagem) da pessoa e tendo como base as seguintes metas ou objetivos
específicos:
1.Identificar
funções cognitivas eficientes.
2.Identificar
as funções cognitivas deficientes.
3.Avaliar a
resposta ao ensino de estratégias e princípios cognitivos.
4.Identificar
a natureza e a quantidade de mediação necessária para superar as funções
cognitivas deficientes.
5.Sensibilizar
mediadores e mediados, diante dos processos desenvolvidos, para enfrentar uma
grande variedade de tarefas.
Os
instrumentos da LPAD podem ser aplicados individualmente e ou em grupos de
pessoas.
Esses dois
tipos de avaliação são igualmente importantes. Na avaliação individual, a
mediação é gradual, isto é, acontece no decorrer da aplicação de cada
instrumento sem, no entanto, transmitir mais que o necessário para garantir o
sucesso da pessoa. Se a pessoa trabalha de modo adequado, não se realiza a fase
de mediação. Em caso contrário, a mediação será mais intensa e centrada nos
pré-requisitos necessários para a solução da tarefe. A LPAD utiliza dezesseis
diferentes instrumentos de avaliação.
Além da
utilização desses instrumentos, são verificadas as habilidades básicas de
Matemática e da língua nativa.
1.Organização
de pontos (Feuerstein, adaptado de Rey);
2.Matrizes
progressivas coloridas - séries A, AB e B (Raven);
3.Matrizes
progressivas clássicas - séries A, B, C, D e E (Raven);
4.Variações
LPAD de Matrizes progressivas - grupo I (Feuerstein);
5.Variações
LPAD de Matrizes progressivas - grupo II (Feuerstein);
6.Desenho de
padrões (Feuerstein, adaptado de Arthur);
7.Progressões
numéricas (Feuerstein);
8.Desenho da
figura complexa (Rey);
9.Aprendizagem
de posição: 5 x 25 (Rey);
10.Memória
associativa: redução funcional (Feuerstein);
11.Memória
associativa: parte e todo (Feuerstein);
12.Abstração
verbal: semelhanças (Haywood);
13.Bandejas
(Rey);
14.Memória
de 16 palavras (Rand, adaptado de Rey);
15.Organizador
(Feuerstein); e,
16.Raciocínio
por Silogismos (Feuerstein).
A LPAD foi
criada como uma reação aos testes psicométricos tradicionais e apresenta com
relação a eles, quatro diferenças básicas de acordo com Russo (1994):
1.O
avaliador assume o papel de mediador e levanta o potencial de aprendizagem,
comparando o desempenho da pessoa, sem ajuda, diante das tarefas propostas com
o desempenho dela mesmo, após receber ajuda, à medida que as dificuldades
emergem durante a solução das tarefas.
2.A
estrutura do teste favorece a apresentação gradual e bem seqüenciada das
propostas de aprendizagem. O material de avaliação organizado com etapas de
dificuldades estudadas com antecedência, permite ao mediador acompanhar a
utilização de recursos oferecidos à pessoas e as transformações que ocorrem no
pensamento dessas pessoas diante da situação problema trabalhada com a
finalidade de identificar e estimar o seu potencial cognitivo
3.Os
objetivos da avaliação focam as mudanças ocorridas no processo de aprendizagem.
Essa abordagem dinâmica permite que o mediador faça remediações a partir de sua
interação com a pessoa.
4.Ênfase
maior nos sucessos da pessoa durante o processo e não nas dificuldades e
fracassos. Assim, as respostas positivas e os sucessos obtidos pela pessoa
indicam pistas a respeito de seu potencial de aprendizagem e de seu
funcionamento cognitivo.
3.4.5 Estrutura global de uma sessão de
avaliação.
A aplicação
dos instrumentos da LPAD se faz em três etapas, na seguinte ordem: pré teste,
aprendizagem mediada e pós teste.
Pré-teste.
Aprendizagem mediada. Pós-teste
A diferença
entre os resultados de uma pessoa no pré teste (desempenho sem ajuda) e no pós
teste (desempenho com ajuda, após mediação) é o indicador de sua modificabilidade,
ou seja, de sua capacidade de aprendizagem. Reiterando, mesmo sendo avaliação
em grupo, o foco é a diferença de desempenho de cada pessoa. O principal
objetivo do pós teste é avaliar o efeito da fase de aprendizagem sobre o
desempenho da pessoa.
3.4.6 Feuerstein e Vygotsky.
As três
fases propostas no desenvolvimento de sessões de avaliação dinâmica aproximam,
mais uma vez, Feuerstein de Vygotsky, por sua semelhança com o conceito de Zona
de desenvolvimento proximal (ou potencial). Esse conceito foi definido por
Vygotsky a partir de três contextos: diagnóstico infantil baseado na utilização
de testes; durante os processos de ensino e de aprendizagem; e, durante a
participação em jogos. Nessas oportunidades, é levantado o nível de desempenho
real da criança que indica o que ela é capaz de realizar sozinha. É ainda
levantado o nível de desenvolvimento potencial da criança que indica sua
capacidade de desempenhar tarefes com a ajuda de adultos ou companheiros mais
experientes. À diferença entre esses dois níveis Vygotsky chamou de Zona de
desenvolvimento proximal (ou potencial).
3.4.7 Exemplos de trechos de interação
mediador-mediados numa sessão de LPAD.
Memória de
dezesseis palavras (adaptado por Fonseca, 1994).
Exige que a
pessoa lembre de um conjunto de palavras apresentado, sem nenhuma ordem
aparente. Essas palavras estão, no entanto, divididas em classes. Avalia a
capacidade da pessoa em perceber, de forma analítica, princípios de organização
de objetos e acontecimentos, com os seguintes objetivos: descobrir, aprender e
aplicar princípios de organização de objetos, a partir de suas características
essenciais comuns; e, memorizar nomes de objetos.
Primeira fase: pré-teste.
Mediador:
Vou ler para vocês uma relação de dezesseis palavras. Prestem muita atenção
porque cada palavra vai ser apresentada uma única vez. Não vou repetir! Depois
que eu terminar a leitura, vocês terão uma tarefe: escrever as palavras que
conseguirem lembrar. Entenderam qual é a tarefa? Estão prontos? Alguma
pergunta?
João: A
ordem das palavras é importante?
Mediador:
Boa pergunta. A ordem das palavras não é importante!! Alguma outra dúvida? Não?
Então, vamos lá. Vou ler as palavras:
Azeite,
vaca, banana, caderno, cachorro, caneta, sal, lápis, tigre, livro, laranja,
rato, pêra, pimenta, uva, vinagre.
Mediador:
Escrevam, por favor, as palavras que vocês conseguirem lembrar.
Mediador:
Terminaram? Vamos conferir os resultados? Vou ler novamente a lista de palavras
para que vocês verifiquem o número de acertos. Vou ler as palavras, novamente:
Azeite,
vaca, banana, caderno, cachorro, caneta, sal, lápis, tigre, livro, laranja,
rato, pêra, pimenta, uva, vinagre.
Segunda
fase: aprendizagem mediada.
Mediador:
Quem acertou doze palavras ou mais do que doze palavras?
Ana: Eu
acertei treze palavras!
Henrique: Eu
também!
José: Eu
consegui me lembrar de doze palavras!
Mediador: Um
momento, deixe-me anotar no quadro os resultados obtidos. Que procedimentos
vocês seguiram para lembrar tantas palavras? Que pistas vocês têm a oferecer
para todos nós?
Ana: No
começo não percebi relações entre as palavras. A partir de um certo momento, no
entanto, eu percebi a existência de quatro conjuntos de palavras: temperos,
animais, material escolar e frutas. Foi assim que eu consegui guardar treze
palavras.
Mediador:
Muito bom, Ana. Muito bom mesmo. Você percebeu que podia organizar as palavras
em quatro classes, o que facilitou a retenção das palavras. Como é que você
escreveu suas palavras?
Ana: Em
quatro colunas.
Mediador:
Veja só o que você fez. Não só pensou em classes de objetos mas, também os
agrupou quando escreveu. Muito bom! Responda, então, a seguinte questão: Que
palavras faltaram?
Ana: uma
fruta, um material escolar e um animal.
Mediador:
Vejam que interessante. Ela sabe o que faltou em sua lista a partir da maneira
como organizou as informações recebidas. Isto é muito importante. Muito
obrigado, Ana.
José: Eu fiz
do mesmo jeito que Ana. Eu não escrevi em colunas. Eu escrevi uma palavra
embaixo da outra mas ... separada em classes. Para mim faltaram dois animais e
uma fruta.
Mediador:
Parabéns Henrique. Muito obrigado por seu depoimento. E você José. Que
procedimento você usou.
José: Eu fiz
um pouco diferente de Ana e de Henrique. Eu imaginei guardar as coisas de comer
dentro da geladeira que existe na minha casa. Em cima dessa geladeira eu
coloquei a vaca, de porcelana. O rato eu guardei junto com o mouse de meu
computador. O caderno e o lápis eu guardei na gaveta de minha mesa de estudo.
Escrevi as doze palavras na mesma linha, uma ao lado da outra.
Mediador:
Parece que você usou procedimentos de classificação e de associação. Gostei de
ouvir sua opinião, José.
Mediador:
Quem acertou menos do que oito palavras? Esperem um pouco enquanto anoto no
quadro o número de acertos de vocês. Carlos ... 3; Cristina ... 4; Felipe ...
4; Lívia ... 5,... Como vocês fizeram? Quais as dificuldades encontradas?
Lívia: Eu
não percebi a existência de classes. Também não consegui associar as palavras.
Felipe: Tentei guarda na ordem alfabética mas ... parece que não funcionou bem.
Carlos: Não
sou bom para memorizar nomes de objetos.
Mediador:
Como vocês escreveram as palavras? Uma embaixo da outra? Uma ao lado da outra?
Observem as maneiras como os resultados podem ser apresentados.
Em coluna ou
em linha:
Banana | banana, rato, pimenta, pêra, vaca, uva,
caderno
gato
pimenta
cachorro
uva
vaca
pêra
Em
conjuntos, grupos, classes ou categorias:
uva azeite caderno rato
banana pimenta lápis cachorro
laranja sal apontador vaca
vinagre
Mediador: A
forma de escrever os resultados dão pistas sobre como vocês perceberam e
elaboraram as informações (palavras). Qual das maneiras de apresentar os
resultados indica que a pessoa utilizou a memorização como processo principal
para guardar as palavras?
Lívia:
Quando você escreve uma palavra atrás da outra sem preocupação em organizá-las.
Quando você se escreve as palavras em grupos a partir de suas características,
então você demonstra preocupação com a classificação das informações.
Mediador:
Você respondeu o que eu perguntei e, além disso, antecipou minha próxima
pergunta. Vocês concordam com as respostas de Lívia?
Terceira
fase: pós-teste.
Mediador:
Vou ler para vocês, mais uma vez, uma relação de dezesseis palavras. Prestem
muita atenção porque cada palavra vai ser apresentada uma única vez. Não vou
repetir! Depois que eu terminar a leitura, vocês terão uma tarefe: escrever as
palavras que conseguirem lembrar. A ordem de apresentação das palavras não é
importante. Entenderam qual é a tarefa? Estão prontos? Alguma pergunta? Alguma
dúvida?
Mediador:
Vou ler as palavras.
Atum,
natação, blusa, calças, sardinha, camisa, cenoura, salmão, futebol, pepino,
pimentão, robalo, saia, boxe, basquete, tomate.
Mediador:
Escrevam, por favor, as palavras que vocês conseguirem lembrar.
Mediador:
Terminaram? Vamos conferir os resultados? Vou ler novamente a lista de palavras
para que vocês verifiquem o número de acertos. Assim:
Atum,
natação, blusa, calças, sardinha, camisa, cenoura, salmão, futebol, pepino,
pimentão, robalo, saia, boxe, basquete, tomate.
Mediador:
Observem as anotações registradas no quadro e comparem os resultados obtidos
por vocês e por todos, nas duas etapas:
Mediador:
Analisem os resultados obtidos do ponto de vista quantitativo. Foram
semelhantes?
Carlos:
Foram muito diferentes. A média da classe quase dobrou! Meu resultado inicial
quintuplicou!! Tive um ganho de doze palavras.
Mediador: É
verdade. Seus resultados individuais foram muito significativos. Nós estamos
conversando do ponto de vista quantitativo. E do ponto de vista qualitativo,
que mudanças você sentiu em você mesmo? O que você fez que não havia feito
antes?
Carlos:
Prestei mais atenção. Fiquei ligado nas possíveis características comuns das
palavras que poderiam me levara a formar uma classe. Percebi as palavras de
forma mais organizada. A organização das palavras parece ter melhorado a
retenção dessas palavras. Acredito que o que aprendi foi maior do que a tarefa
proposta em si. O que aprendi hoje deverá ajudar, de certa forma, uma série de
tarefas que faço no meu dia-a-dia como estudante, profissional, em casa, ...
3.5 O Programa de Enriquecimento Instrumental
(PEI).
3.5.1 O PEI, seus objetivos e instrumentos.
O Programa
de Enriquecimento Instrumental é um sistema estruturado de intervenção
(Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller, 1980), construído principalmente a partir
de alguns instrumentos da LPAD, cujo objetivo amplo é Aumentar a
modificabilidade cognitiva estrutural de uma pessoa que apresente atraso em relação
à sua exposição a estímulos e experiências de vida e com os seguintes objetivos
específicos:
1.Corrigir
funções cognitivas deficientes.
2.Adquirir
vocabulário, códigos, conceitos, operações e relações relevantes para as
tarefas do PEI, bem como para a resolução geral de problemas.
3.Desenvolver
motivação intrínseca por meio da formação de hábitos.
4.Desenvolver
o pensamento reflexivo e o insight.
5.Desenvolver
motivação intrínseca em relação à tarefa.
6.Mudar o
papel de receptor passivo e reprodutor de dados para o de gerador ativo de
novas informações.
Esse
programa que abrange 337 páginas divide-se em catorze instrumentos de trabalho
agrupados, por sua vez, em dois níveis:
Nível I:
1.Organização
de pontos.
2.Orientação
espacial
3.Comparações.
4.Classificações.
5.Percepção
analítica.
6.Orientação
espacial
7.Ilustrações
Nível II:
8.Progressões
numéricas.
9.Relações
familiares.
10.Instruções.
11.Relações
temporais.
12.Relações
transitivas.
13.Silogismos.
14.Desenho
de padrões.
Todos os
instrumentos do PEI foram elaborados a partir dos instrumentos da LPAD, com
exceção de Ilustrações e Relações temporais (Feuerstein, Rand, Hoffman e
Miller, 1980-, p. 126 e Sánchez (1989, p. 81).
3.5.2 Número de alunos por turma, duração de
uma aula de PEI e número de aulas semanais.
O número de
alunos por turma de PEI é feto relevante: de treze a dezessete pessoas. Uma
aula de PEI, de acordo com Feuerstein, Rand, Hoffinan e Miller (1980), deve ser
realizada em uma hora: introdução (cinco a dez minutos), trabalho autônomo do
aluno (20 a 25 minutos), discussão e desenvolvimento do insight (20 a 25
minutos) e resumo (cinco a dez minutos). É comum o desenvolvimento de aulas de
45 ou 50min quando esses encontros estão previstos no horário escolar.
Além disso,
em ambientes escolares, o número de alunos poderá ser bem maior.
Cada página
do PEI corresponde a uma aula. O número desejável de aulas é de três a cinco
aulas semanais. Isso implica que as 337 páginas dos dois níveis do PEI serão
desenvolvidas em cerca de 337h, distribuídas por cerca de 80 semanas, pouco
mais de um ano e meio de trabalho, sem interrupção. O período de intervenção é
intencionalmente longo para que a modificabilidade cognitiva desejada seja
efetivamente estrutural, permanente.
A respeito
do tempo de exposição das pessoas ao Programa, assim se manifesta Fonseca
(1996, p. 112): “O tempo ideal de duração do PEI, de acordo com seu autor, deve
decorrer na base de três a cinco horas semanais, com intervalos espaçados e
planejados ao longo de dois a três anos, para efetivamente se operar no
indivíduo uma modificabilidade cognitiva estrutural e não superficial.”
3.5.3 Produção, guarda e distribuição de
instrumentos e páginas do PEI.
Os
instrumentos do PEI são produzidos no Brasil pela Universidade Federal de Minas
Gerais, desde 1999. Esses instrumentos são produzidos, também, pela Fundação
Luís Eduardo Magalhães, para atendimento das necessidades específicas da
Secretaria da Educação do Estado da Bahia, desde 2000. A distribuição desse
material é feita por Centros Autorizados de Formação existentes em diversos
Estados e por escritório, em São Paulo, que representam o ICELP (ver Anexo 1).
É necessário prever local adequado e seguro para guarda e distribuição do
material para os mediadores. As páginas devem ser distribuídas uma a uma para
os participantes do Programa, ou seja, uma página por aula.
3.5.4 Clientelas possíveis.
O PEI é
indicado para aperfeiçoar o desempenho cognitivo de uma grande variedade de
pessoas. É importante ressaltar que a população escolar de qualquer nível surge
como cliente preferencial. Assim, são clientes possíveis, dentre outros:
• alunos e
aprendizes com ou sem dificuldades de aprendizagem,
• trabalhadores
empregados,
• trabalhadores
empregados em contato com novas tecnologias,
• trabalhadores
desempregados em processo de requalificação profissional,
• pessoas
não-alfabetizadas,
• pessoas
com baixo desempenho em leitura e escrita (analfabetos funcionais),
• pessoas em
processo de aprendizagem de idiomas,
• professores
de qualquer disciplina,
• supervisores
de produção e de serviços,
• gerentes
de escolas e de empresas,
• militares
graduados,
• pessoas
com necessidades especiais de educação,
• crianças
abandonadas,
• ex-drogados
em processo de recuperação e
• idosos.
3.5.5 Formação de mediadores.
A
capacitação de mediadores do PEI nos níveis I e II para desenvolver os catorze
instrumentos do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) é realizada, em
cerca de 150h (dois ou três seminários intermediados por aplicação do Programa).
Nenhuma formação acadêmica específica é exigida como pré-requisito para essa
atividade. Essa capacitação é coordenada por Centros de formação autorizados
pelo ICELP (Anexo 1).
3.5.6Exemplo
de trecho de interação mediador-mediados na etapa discussão de uma aula de PEI
(adaptado de Feuerstein, Rand e Rynders, 1988 e Feuerstein e Hofíman, 2002a).
Uma aula de
PEI prevê quatro etapas: introdução, trabalho do aluno, discussão e
desenvolvimento do insight e resumo da aula. O trecho, apresentado a seguir,
foca parte da terceira etapa de uma aula de PEI: a discussão.
Mediadora:
Olhem agora para atarefa número seis. Quem gostaria de ler as instruções? Você
gostaria, Joana?
Embaixo do
quadrado da esquerda, desenhe um círculo.
Joana:
Desenhe dois quadrados sendo um deles na parte superior direita e o outro na
parte superior esquerda do campo quadrado cinza. Embaixo do quadrado da
esquerda, desenhe um círculo.
Mediadora:
Muito obrigada, Joana. Quem gostaria de ir ao quadro para nos mostrar de que
maneira seguiu essas instruções. Muito obrigada, Ronaldo, está correto. Alguém
obteve resultado diferente e gostaria de nos mostrar? Muito obrigada, Janete.
Seu desenho também está correto. Alguém desenhou diferente de Ronaldo e Janete?
Muito obrigada, José, está correto.
Temos três
desenhos no quadro e todos os três estão corretos, de acordo com as instruções.
Comparem os três desenhos.
Geraldo: Em cada um dos três desenhos, há dois
quadrados e um círculo.
Nilson: Nos
três desenhos, as posições dos quadrados são mais ou menos as mesmas. Seus
tamanhos são diferentes. Com os círculos os tamanhos e as posições são
diferentes.
Ronaldo: A
diferença entre eles está no tamanho dos quadrados e no tamanho e nas posições
dos círculos.
Mediadora:
Muito bem. Por que vocês desenharam quadrados nas mesmas posições e desenharam
círculos de diferentes tamanhos e diferentes posições, em relação ao quadrado
do lado superior esquerdo?
José: Os
quadrados foram desenhados nas mesmas posições porque as instruções nos
indicavam claramente suas posições, sem nada dizerem sobre seus tamanhos.
Mediadora: O
significado das expressões "superior direito" e “superior
esquerdo" definem mais claramente a posição dos quadrados. E sobre o
círculo?
Leila: O
tamanho e a posição dos círculos não é definido de maneira precisa.
Mediadora: A
instrução diz para vocês desenharem um círculo embaixo do quadrado da esquerda.
Leila:
Embaixo do quadrado da esquerda pode ser entendido de diversas formas.
Rosa: A
instrução não é precisa. Ela é ambígua.
Mediadora:
Bela resposta! A razão pela qual os três desenhos do quadro são diferentes e,
no entanto, são corretos, é porque as instruções são ambíguas, podendo ser
interpretadas de diferentes maneiras. É possível tornar essas instruções mais
claras e precisas?
Ana: Desenhe
um círculo no canto esquerdo embaixo do quadrado da esquerda.
Mediadora:
Ana disse: “Desenhe um círculo no canto esquerdo embaixo do quadrado da
esquerda.”
Tomaz: Ou eu
posso dizer: “embaixo do quadrado da esquerda no meio do campo.”
Sandy: Há
outra possibilidade: “Desenhe um círculo a tantos centímetros embaixo do
quadrado da esquerda.”
Mediadora:
“Desenhe um círculo no canto esquerdo embaixo do quadrado da esquerda.” ou
“embaixo do quadrado da esquerda no meio do campo.” ou “Desenhe um círculo a
tantos centímetros embaixo do quadrado da esquerda.” O que torna essas
instruções, feitas por vocês, mais precisas?
Sandy: Os
detalhes que adicionamos.
Mediadora:
Eu preciso de um voluntário para formular uma instrução qualquer para ser
examinada por nós, do ponto de vista da precisão. Ninguém se apresenta? Vamos
supor que eu gostaria que alguém fosse buscar minha bolsa que está na sala dos
professores. Quem quer formular uma instrução sobre isso?
Joana: Por
favor, pegue minha bolsa que está na sala dos professores.
Sandra: Não.
Você tem de dizer a cor e onde encontrá-la. Por exemplo: Por favor, pegue minha
bolsa marrom que está em cima da cadeira que está na sala dos professores.
Miguel: Mas
sobre qual cadeira? Sobre a primeira cadeira do seu lado esquerdo, quando você
entra na sala.
Mediadora: O
que toma as instruções mais precisas?
Berenice:
Detalhes.
Mediadora:
Muito bem. A partir dos exemplos colocados no quadro, nós pudemos perceber que
é possível seguir uma instrução por diversos caminhos igualmente corretos. Se
nos quisermos que a instrução nos leve exatamente para o mesmo ponto,
precisamos agregar detalhes. Que princípio pode ser derivado dessa situação?
Carlos:
Quanto mais detalhada for uma instrução, mais clara e precisa ela será.
Mediadora:
Sim, muito bom. Onde, em situações do dia-a-dia, é importante formular
instruções claras e precisas?
Jorge:
Quando nós descrevemos como chegar a um determinado lugar. Ou onde está
localizada alguma coisa, como em Geografia, por exemplo.
3.6 Modelagem de Ambientes Modificadores (MAM).
3.6.1 Comentários iniciais.
Durante a
aplicação dos instrumentos do PEI, o mediador estabelece, intencionalmente,
ambientes modificadores a partir do desenvolvimento de experiências de
aprendizagem mediada, buscando ampliar a modificabilidade cognitiva estrutural
de seus alunos, durante cerca de quatro horas semanais. Esse objetivo poderá
ser prejudicado, uma vez que os alunos mantém, durante as horas restantes,
contato com outros ambientes, não tão exigentes.
Em outras
palavras, numa escola onde o PEI é aplicado junto a estudantes é desejável que
os professores das disciplinas escolares (Língua Portuguesa, Matemática,
Geografia, por exemplo) apliquem em suas aulas os princípios praticados durante
as aulas de PEI com a intenção de criar ambientes cognitivamente desafiadores.
Caso esses alunos precisem complementar sua formação em outros ambientes
educacionais (estágio em empresa, por exemplo), os responsáveis por essa
complementação também devem criar ambientes modificadores. Os pais desses alunos
também podem ser preparados para realizar mediações com essa intenção em suas
casas, em determinadas ocasiões.
3.6.2 A MAM e seus objetivos.
Modelagem de
ambientes modificadores é um sistema não estruturado de manutenção (Feuerstein,
Rand e Rynders, 1988; Feuerstein e Beker, 1991; e, Sasson, 1997), com os
objetivos amplos de:
1. envolver
os mediados em ambientes cognitivamente desafiadores especialmente planejados;
2. criar
oportunidades para que os estudantes aprendam a se adaptar, estabelecendo: flexibilidade
cognitiva e emocional e capacidade de modificar seu próprio modo de pensar,
sentir e de se comportar; e,
3. evitar o
colapso da modificabilidade cognitiva estrutural estabelecida pela LPAD e pelo
PEI.
3.6.3 Características de ambientes modificadores.
Um ambiente
modificador exige do estudante, de forma sistemática, modificações cognitivas,
afetivas e sociais. Essas exigências são planejadas a partir de onde o aluno
está e crescem a partir da melhoria de seu desempenho diante de tarefas
cognitivamente desafiadoras. Essas mudanças são chamadas mudanças de segunda
ordem ou aprendizagem transformadora em oposição a mudanças de primeira ordem
que pretendem que a pessoa faça uma tarefe mais ou menos melhor, um pouco mais
rápido e com um pouco mais de precisão. Uma analogia para esclarecer esses
conceitos: a água quando se toma um pouco mais fria ou um pouco mais quente
representaria mudança de primeira ordem, enquanto que quando a água se
transforma em gelo ou vapor, essas alterações ou mudanças de estado
representariam uma mudança de segunda ordem.
4. A proposta educacional de Feuerstein: outros
aspectos (teóricos e didáticos).
4.1 O mapa cognitivo.
4.1.1 Um
instrumento de análise de tarefas e de planejamento da avaliação, da
intervenção e da manutenção..
O mapa
cognitivo (Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller 1980; Feuerstein, 1998b e Sasson,
1999b) é um
modelo de análise do ato mental que permite perceber a relação existente entre
as características de uma tarefa e o rendimento da pessoa. O mapa cognitivo
descreve o ato mental através de sete parâmetros. O manejo destes parâmetros
tem um papel muito importante na interação mediador - mediado, na medida em que
servem para levantar e validar hipóteses relativas a localização das
dificuldades da pessoa.
A análise
dos instrumentos da LPAD e dos instrumentos e páginas do PEI, a partir do mapa
cognitivo, é pré requisito para o planejamento de uma sessão de avaliação ou de
uma aula. Além da análise desses instrumentos, é possível analisar qualquer
tarefe cognitivamente desafiadora, seja uma tarefa de qualquer disciplina
escolar ou um quebra-cabeça ou um jogo qualquer. Gomes (2002, p. 205)
complementa,
O mapa
cognitivo é um recurso extremamente abrangente e um poderoso guia para o
pesquisador dos processos cognitivos e para o educador. Tendo em mão esse
recurso, pode-se por exemplo:
1. Analisar
os requisitos cognitivos envolvidos no ensino dos conteúdos escolares.
2. Definir
estratégias de ensino que levem em consideração tanto a aprendizagem do
conteúdo quanto a aprendizagem do próprio ato de aprender, ou seja, o aprender
a aprender.
3. Compreender
melhor o processo (cognitivo) da aprendizagem exigido pelos conteúdos
ensinados.
4. Redefinir
critérios para a análise de materiais didáticos com fins educacionais.
5. Redefinir
uma série de critérios para a avaliação do processo de aprendizagem do aluno,
em função da análise dos materiais envolvidos no ensino.
4.1.2 Os sete parâmetros do mapa cognitivo.
4.1.2.1 O universo do conteúdo em tomo do qual
o ato mental é centrado.
Diz respeito
ao tema envolvido na tarefa a ser apresentada ao mediado. O mediador, ao
analisar uma tarefa a partir desse parâmetro, pretende identificar os conteúdos
envolvidos pela situação-problema. A competência da pessoa no conhecimento de
uma disciplina específica está diretamente ligada a sua experiência passada:
história educacional, pessoal e cultural. Assim, alguns conteúdos podem ser
pouco familiares e exigir um investimento de tempo muito grande por parte do
estudante, bem como do mediador. Em conseqüência, quando se deseja ensinar uma
determinada operação cognitiva, a seleção do conteúdo ganha um papel muito
importante. Tebar (2003, p. 64) complementa: “Definimos o PEI como um programa
‘vazio de conteúdo’ não porque não trate tema algum, mas porque não aborda um
conteúdo curricular específico, porém cada uma de suas páginas desenvolve um
tema ou conteúdo concreto, pois as operações cognitivas não podem ativar-se no
vazio”.
Ao mesmo
tempo que se apresentam os parâmetros do mapa cognitivo, serão analisados,
paralelamente, dois problemas:
4.1.2.2 A modalidade ou linguagem na qual o ato
mental está expressa.
Diz respeito
sobre a maneira como a tarefe se comunica com a pessoas. Isso é relevante, uma
vez que a modalidade de apresentação da tarefe afeta o rendimento da pessoa. O
mediador, ao analisar uma tarefa a partir desse parâmetro, pretende identificar
as modalidades envolvidas pela situação-problema. As modalidades podem ser
experienciais, pictóricas, figurativas, verbais e gráficas ou resultado da
combinação de duas ou mais delas. Cada uma das modalidades exige esforço
diferenciado dos estudantes, em fiinção de sua familiaridade com a modalidade e
de seu estilo cognitivo. O parâmetro da modalidade é importante pelo fato de
que as capacidades de elaboração manifestadas pela pessoa, ao enfrentar um tipo
específico de modalidade, não expressam necessariamente sua capacidade total
para enfrentar-se com outras variedades de linguagem.
Fascovich
(2000, informação verbal) 3 assim define cada uma dessas modalidades:
1. Experiencial: Objetos tridimensionais.
2. Pictórica: Representação da realidade por desenhos.
3. Figurativa: Figuras bidimensionais.
4. Verbal: Letras, símbolos, linguagem escrita, códigos,...
5. Gráfica: Esquemas, tabelas, diagramas, gráficos,...
Análise
paralela dos dois problemas:
4.1.2.3 As
operações cognitivas requeridas pelo ato mental.
Diz respeito
às operações cognitivas necessárias para a resolução da tarefa proposta. O
mediador, ao analisar uma tarefa a partir desse parâmetro, pretende identificar
“o caminho cognitivo necessário para a execução da tarefa.” (Gomes, 2002, p.
204), tendo como base a própria resolução da situação-problema.
As operações
cognitivas previstas por Feuerstein são: identificação, comparação, análise,
síntese, classificação, codificação, decodiflcação, relações virtuais,
diferenciação, representação mental, transformação mental, raciocínio
divergente, raciocínio hipotético-inferencial, seriação, multiplicação lógica,
raciocínio transitivo, raciocínio analógico, raciocínio lógico e raciocínio
silogístico. Essa relação de operações cognitivas é resultado de adaptação de
Martínez Beltrán (s/d, p. 10 àp. 12, p. 14 e, principalmente, p. 18).
Análise
paralela dos dois problemas:
4.1.2.4 As funções cognitivas requeridas nas
três fases do ato mental.
Diz respeito
às funções cognitivas necessárias para a resolução da tarefa proposta. O
mediador, ao analisar uma tarefa a partir desse parâmetro, pretende identificar
[...] “o processo de raciocínio necessário para a resolução dos problemas. A
compreensão do processo mental requerido nas tarefas do material é um dos
aspectos mais importantes para o mediador, pois sua preocupação maior
concentra-se na alteração do processo mental ativado pelos materiais” (Gomes,
2002, p. 203), tendo como base a própria resolução da situação-problema. O ato
mental ocorre em três fases: entrada, elaboração e saída. As três fases estão
relacionadas e cada uma delas ganha sentido na medida em que se relaciona com a
outra. As fiinções cognitivas deficientes são analisadas em função dessas três
fases. Isso permite precisar em que fase e com quais funções deve-se trabalhar
no processo de aprendizagem.
As funções
cognitivas previstas por Feuerstein são:
É importante registrar
que essa relação de funções cognitivas é resultado de adaptações de Feuerstein,
Rand, Hoffman e Miller (1980, p. 76 à p. 103) e de Martínez Beltrân (s/d, p. 13 e p. 14 e, principalmente,
p. 18).
Análise
paralela dos dois problemas:
4.1.2.5 Nível de complexidade do ato mental.
O mediador,
ao analisar uma tarefa a partir desse parâmetro, pretende estabelecer a
quantidade de informações envolvidas pela tarefe e seu grau de familiaridade,
tendo como base a própria resolução da situação-problema.
4.1.2.6 Nível de abstração do ato mental.
O mediador,
ao analisar uma tarefa a partir desse parâmetro, pretende estabelecer a
distância entre o ato mental e o objeto ou fato a que se refere, tendo como
base a própria resolução da situação-problema. Assim, por exemplo, o ato mental
implícito no estabelecimento e produção de relações entre objetos apresenta um
nível menor de abstração que o ato mental implícito na análise de relações
entre relações. Em outras palavras, é mais fácil classificar objetos do que
classificar sentimentos.
4.1.2.7 Nível de eficiência requerido pelo ato
mental.
O nível de
eficiência pode ser medido pelo trinômio rapidez - precisão - esforço
necessário para a realização de uma tarefa. Gomes (2002, p. 204) esclarece:
Ser
eficiente é conseguir realizar a tarefa com o maior número possível de acertos
e com a maior rapidez possível. As tarefas elaboradas devem ser construídas de
modo a possibilitar que o mediado tenha um mínimo de eficiência e prossiga em
busca de novos êxitos. Sem um mínimo de êxitos, não pode haver interesse,
motivação, acréscimo da auto-estima e confiança na modificabilidade.
O mediador,
ao analisar uma tarefa a partir desse parâmetro, pretende estabelecer se a
tarefe representa para o mediado um desafio cognitivo, ou seja, se ela é pouco
eficiente, tendo como base a própria resolução da situação-problema. Além
disso, a feita de eficiência pode ser devida a fatores físicos, afetivos,
ambientais e motivacionais. O nível de eficiência pode ser também afetado pelos
demais parâmetros e pode refletir fatores como o caráter recente da aquisição e
o grau de cristalização dos processos.
4.1.3 Outros três exemplos de análises de
tarefes com o mapa cognitivo.
4.1.3.1 Análise de tarefa equivalente às apresentadas
no instrumento Relações transitivas (Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller, 1980,
p. 112 e p. 113).
O uso do
mapa cognitivo na análise de processos de pensamento inferencial pode ser
ilustrado pelo seguinte exemplo de um conjunto ordenado transitivo:
se A > B, B > C, C > D, então A >
D, B > D.
A informação
que A > D e B > D não é dada de forma direta através de observação ou
afirmação mas está indiretamente disponível por outras observações. Deve ser
derivada, logicamente e inferencialmente, da informação dada previamente. Isto
nos permite analisar vários parâmetros envolvidos neste processo. O primeiro
passo envolve uma representação simbólica das entidades dadas, A, B, C e D. Em
termos de conteúdo, podem ser países, plantas, animais ou grupos políticos. Em
termos de operações, A > B > C > D representa um processo de
pensamento transitivo, que permite a derivação de nova informação dos dados
recolhidos previamente. [...] Aqui o que se requer do indivíduo é que seja
consciente e armazene as relações '“maior que” como entidades que existem entre
estes termos.
A fase de
elaboração começa quando a nova informação é procurada nas relações dadas
anteriormente. Estas relações de “maior que” estabelecidas entre AeB, BeC, eCeD
tem a identidade da relação “maior que” em comum. Isto permite enunciar
relações acabadas de gerar entre AeD, eBeD.A afirmação total
A>B,B>C,C>D,A>D, B>D envolve três unidades de informação que são
dadas na fase de entrada e duas que são derivadas da fase de elaboração. Pode
ser considerada uma tarefa complexa, em relação a outras tarefas, como a que
inclui só A > B e B > C então A > C. Além de aumentar o número de
unidades, o nível de complexidade também pode aumentar introduzindo novas
relações.
O sexto
parâmetro, o nível de abstração, está definido pela distância entre o ato
mental e o conteúdo no qual opera. O presente exemplo tem um nível de abstração
relativamente alto, porque envolve a geração de nova informação derivada das
relações obtidas entre objetos e eventos mais do que dos objetos mesmos.
O sétimo
parâmetro, o nível de eficiência, será refletido na forma, ritmo, passo,
precisão e grau de facilidade com que se produz o ato mental.
4.1.3.2 Análise de situação de avaliação dinâmica
(adaptado do instrumento Memória de 16 palavras da LPAD).
Leitura de
palavras (ver descrição apresentada nas páginas 33 a 37, deste documento):
atarefe consiste em escrever, de memória, o maior número possível de palavras
apresentadas, sem repetição, sem qualquer tipo de ajuda. Após levantamento do
número de acertos, as pessoas são levadas a compartilhar suas estratégias
cognitivas de memorização e de classificação das informações no momento de sua
percepção. Em seguida, outras palavras são ditadas e os desempenhos pós ajuda
são analisados. Finalmente são comparados os desempenhos das pessoas nos dois
momentos.
Análise da
situação de avaliação a partir do mapa cognitivo.
1. Conteúdo: frutas, temperos, material escolar, mamíferos, peixes, roupas,
hortaliças, e esportes.
2. Modalidade: verbal.
3. Operações cognitivas que podem ser
trabalhadas: identificação das
características essenciais das palavras para agrupá-las em uma classe
superordenada; comparação entre palavras, apresentadas oralmente, para
encontrar aspectos essenciais semelhantes necessários para estabelecer
conceitos superordenados; diferenciação entre aspectos essenciais de palavras
dadas; e, classificação de palavras, apresentadas em aparente desordem, em
classes superordenadas.
4. Funções cognitivas que poderão ser trabalhadas:
Entrada: percepção clara e precisa dos atributos essenciais das palavras ditadas
e utilização de mais de uma fonte de informações.
Elaboração: percepção e definição clara do problema, comportamento comparativo na
criação de categorias superordenadas e elaboração de categorias superordenadas
cognitivas.
Saída: precisão e exatidão na comunicação da resposta.
5. Nível de complexidade: elevado.
6. Nível de abstração: elevado
7. Nível de eficiência: médio.
4.1.3.3 Análise
de situação-problema proposta para crianças.
Tarefa:
Encaixe no diagrama abaixo os nomes dos números de um a dez.
Análise do
problema a partir do mapa cognitivo. 1. Conteúdo: nomes dos números de um a
dez.
2. Modalidades: gráfica e verbal.
3. Operações cognitivas que podem ser
trabalhadas: identificação e
análise das características essenciais dos nomes dos números; comparação entre
os nomes dos números de um a dez para encontrar semelhanças e diferenças;
classificação dos nomes dos números de um a dez em classes por número de
letras; e, utilização do raciocínio hipotético-inferencial na construção e
verificação de hipóteses.
4. Funções cognitivas que podem ser trabalhadas:
Entrada: precisão e exatidão na coleta de características essenciais dos nomes
dos números de um a dez e utilização de mais de uma fonte de informação.
Elaboração: percepção e definição clara do problema, diferenciação entre dados
relevantes (características únicas, por exemplo) e irrelevantes; comportamento
comparativo espontâneo para estabelecer semelhanças e diferenças significativas
entre os nomes dos números; utilização do raciocínio hipotético-inferencial (se
só existe um elemento na classe, então o nome desse número tem lugar
determinado no diagrama, por exemplo); estabelecimento de estratégias para
verificação de hipóteses; comportamentos planejado e somativo espontâneos.
Saída: precisão e exatidão na comunicação da resposta e controle da
impulsividade.
5.Nível de complexidade: médio a elevado.
6.Nível de abstração: médio.
7.Nível de eficiência: médio.
4.2 Operações cognitivas.
4.2.1 O que se entende por operações cognitivas.
Feuerstein,
Rand, Hoffman e Miller (1980, p. 106 e p. 107) e Feuerstein, Rafi Feuerstein e
Falik (1998, p. 21) afirmam:
Uma operação
pode ser compreendida como um conjunto internalizado, organizado, coordenado de
ações em termos daquilo que elaboramos a partir da informação derivada de
fontes externas e internas. Na análise dos atos mentais, é necessário definir a
natureza precisa da operação envolvida. As operações podem variar do simples
reconhecimento e da identificação de objetos até atividades mais complexas tais
como classificação, seriação, multiplicação lógica, e outras. Além disso, as
operações podem ser aplicadas a informações existentes ou podem requerer a
geração de dados novos que não estão disponíveis no repertório existente da
pessoa, como no caso do raciocínio silogístico, analógico ou inferencial. Ao
definir a natureza de uma operação, é importante identificar os pré-requisitos
necessários para seu desenvolvimento e aplicação. Ao projetar exercícios ou
currículos que envolvem determinadas operações, a definição das operações deve
ser realizada a fim de esboçar todos os componentes dos elementos de
intervenção necessários para suas aquisições e/ou aplicações.
Rand (1994,
p. 83), complementa:
As operações
relacionam-se com os resultados comportamentais das funções cognitivas e de
seus vários componentes. Não se limitam, portanto, a comportamentos diretamente
observáveis, estando aí incluídas as operações mentais internalizadas - como um
pensamento ou um processo de raciocínio mais elaborado e complexo - que não se
manifestam, nem são comunicadas aos outros. Assim, operações são comportamentos
interiorizados ou exteriorizados, maneiras de agir ou processos de atuação, por
meio dos quais a pessoa elabora as configurações internas ou externas dos
estímulos.
As operações
cognitivas trabalhadas no PEI, como conseqüência do desenvolvimento das funções
cognitivas são: identificação, comparação, análise, síntese, classificação,
codificação, decodificação, relações virtuais, diferenciação, representação
mental, transformação mental, raciocínio divergente, raciocínio
hipotético-inferencial, seriação, multiplicação lógica, raciocínio transitivo,
raciocínio analógico, raciocínio lógico e raciocínio silogístico. Repetindo,
essa relação de operações cognitivas é resultado de adaptação de Martínez
Beltrán (s/d, p. 10 à p. 12, p. 14 e, principalmente, p. 18).
As operações
cognitivas, como já foi dito, podem ser relativamente simples (identificação e
comparação) ou muito complexas (raciocínio transitivo e raciocínio
silogístico). Além disso, algumas operações cognitivas podem ser consideradas
pré-requisitos de outras: comparação é considerada pré-requisito de todas as
demais. Algumas operações cognitivas podem incluir outras: raciocínio lógico
inclui raciocínio hipotético inferencial, raciocínio transitivo e raciocínio
silogístico, por exemplo.
4.2.2 Definição
de cada uma das operações cognitivas, acompanhada de exemplos de situações-problema
correspondentes5 (adaptado de Feuerstein, Falik e Feuerstein, 1998; Martínez
Beltrán, s/d, p. 11 e p. 12; Cruz, Franceschini, Gonçalves e Pieroni Rodrigues,
1998; e, Tebar, 1998c, p. C-44 à p. C-63 e 2003, p. 108 à p. 112).
1. Identificação:
é o processo pelo qual as pessoas conseguem reconhecer e dar nome a objetos,
pessoas, eventos, abstrações,..., a partir da análise de suas características
comuns e essenciais. O processo de generalização inicia quando a pessoa aprende
a identificar objetos, eventos, pessoas,..., ou seja, quando ela projeta uma
hipótese que descreve cada um desses elementos, independentemente de tamanho,
forma, cor, massa ou posição.
O que se
busca nesse processo é o conceito, ou seja, as características essenciais que
estão presentes em todos os elementos que recebem um determinado nome. Um
triângulo, por exemplo, é uma figura geométrica plana, com três lados e três
ângulos (características essenciais). Assim, qualquer figura que apresente
essas características - independentemente de seu tamanho, da medida de seus
lados e ângulos e da posição que ocupa no espaço - será sempre um triângulo.
2. Comparação:
é o processo pelo qual se relacionam fetos, objetos, pessoas,... para levantar
suas semelhanças e diferenças, tendo como base seus atributos essenciais.
A comparação
pode ser considerada uma abreviação mental de um processo de manipulação motora
por meio do qual dois elementos são superpostos com a finalidade de encontrar
pontos comuns e, em que e como diferem. Semelhanças e diferenças são então
combinadas numa descrição que estabelece as relações entre os objetos. As relações
estabelecidas são diretamente relevantes para as necessidades e fins que
geraram inicialmente a atividade de comparação (Feuerstein e Hoffman, 2000c). É
importante registrar, ainda, que medir significa comparar duas grandezas de
mesma espécie com a finalidade de verificar quantas vezes uma delas,
considerada como padrão, cabe dentro da outra. Toda medida é uma comparação,
mas nem toda comparação é uma medida.
Uma
situação-problema adaptada de Batllori (2006) para melhorar o entendimento
sobre a operação cognitiva comparação.
3. Análise -
é o processo pelo qual se consegue dividir um todo em elementos ou partes
componentes e examinar relações existentes entre essas partes, a fim de
compreendê-lo melhor. Essa operação é a operação inversa de outra operação
cognitiva: a síntese.
Uma
situação-problema para melhorar o entendimento da operação cognitiva análise.
4. Síntese: é
o processo pelo qual se reúnem elementos e partes percebidos isoladamente em um
todo ainda não especificado. Essa operação é a operação inversa de outra
operação cognitiva: a análise.
Uma
situação-problema para melhorar o entendimento sobre a operação cognitiva
síntese (adaptado de Feuerstein e Hofíman, 2000e).
5. Classificação:
é o processo pelo qual se agrupam objetos, fatos, pessoas,..., a partir de seus
atributos comuns e essenciais e de acordo com um critério ou princípio.
Uma das
características mais importantes do ser humano é impor ordem sobre a
desorganização do universo que o cerca, por meio da relação que se estabelece
entre objetos e ou eventos, formando sistemas significativos. Assim, diante dos
estímulos do meio ambiente, as pessoas podem tentar ordená-los
discriminando-os, ou seja, tratando-os de forma específica, sem construir
generalizações, o que é pouco econômico, trabalhoso e nem sempre eficiente. As
pessoas podem optar por uma outra forma de ordenação dos estímulos que as
cercam, buscando organizá-los em classes a partir de suas características
essenciais, o que - ao contrário - é mais econômico, menos trabalhoso e mais
eficiente. Em lugar de dizer laranjas, tangerinas, limas e limões, pode-se usar
o conceito superordenado frutas cítricas para descrever simultaneamente um
conjunto de elementos diferentes entre si mas que apresentam características
essenciais comuns (Feuerstein e Hoffman, 2000d).
6. Codificação:
é o processo que consiste em traduzir idéias, pensamentos, emoções,..., em
símbolos para poder comunicá-los devidamente. Essa operação é a operação
inversa de outra operação cognitiva: a decodificação.
7. Decodificação:
é o processo que consiste em traduzir símbolos em idéias, pensamentos,
emoções,..., para poder compreendê-los devidamente. Essa operação é a operação
inversa de outra operação cognitiva: a codificação.
Três
situações-problema para melhorar o entendimento sobre as operações cognitivas
codificação e decodificação, adaptadas, respectivamente, de Feuerstein e
Hoffman (2002a), Fritzen (1973) e Wittich e Schuller (1968).
Observe e descreva a ilustração. Dobre na linha na linha tracejada e
peça a seu colega do lado para desenhar figuras a partir da sua descrição.
2. Comparem os resultados alcançados por vocês. Levantem as razões das
semelhanças e diferenças entre a ilustração inicial e a final. Justifiquem suas
respostas._
Vou fazer um ditado de figuras que vocês deverão desenhar. Prestem muita
atenção porque vamos seguir duas regras: em primeiro lugar, vou ditar uma única
vez e, em segundo lugar, não vou permitir que vocês façam perguntas./Vocês vão
desenhar cinco quadrados, de 2cm mais ou menos, formando um conjunto
harmonioso, a partir das seguintes orientações./ Peguem uma das folhas de papel
em branco que receberam e, na parte de baixo, bem no centro, tracem um quadrado
como o quadrilátero existente no centro de nossa bandeira./ A partir do vértice
superior, tracem a base de outro quadrilátero com as mesmas dimensões do
quadrado anterior, isto é, de 2cm aproximadamente./ Tracem agora um terceiro
quadrilátero, cujo vértice se apoie no centro da segunda figura, de modo que
seja semelhante ao primeiro, porém ligeiramente deslocado para a direita./ Do
lado superior da terceira figura, cuja linha segue da esquerda para a direita,
tracem, um pouco acima do centro, uma linha para a esquerda nas mesmas
dimensões anteriores, que servirá de base para o outro quadrilátero, muito
semelhante à segunda figura e quase na mesma posição, um pouco para a
esquerda./ Aproveitem a linha superior deste último quadrilátero e completem
para a direita o que falta para a base da última figura que irão traçar.
Completem para cima este último quadrilátero._
Leia atentamente a descrição abaixo apresentada do aardvark e depois,
desenhe-o:
O corpo é atarracado, com o dorso arqueado; membros curtos e vigorosos,
armado de garras fortes e rombudas; orelhas longas; cauda grossa na base que se
afina gradativamente. A cabeça alongada se assenta sobre um pescoço curto e
grosso. Na extremidade do focinho, existe um disco no qual se abrem as narinas.
A boca é pequena e tubular; a língua, longa e extensível. De cor areia ou
amarela, possui pêlo ralo que deixa aparecer a pele. Um exemplar grande deste
animal pode medir aproximadamente dois metros._
8. Relações
virtuais: é o processo que possibilita visualizar e estabelecer relações que
existem potencialmente, mas não em realidade. Envolve também a interiorização
de esquemas, modelos, princípios, por exemplo.
Uma tarefa
de organização de pontos complexa e desafiadora para facilitar a compreensão da
operação cognitiva relações virtuais.
Tarefa: Descobrir figuras escondidas em nuvens de pontos. Instruções:
1. Reproduza em cada um dos dezenove quadros abaixo duas, três ou quatro
figuras das cinco figuras apresentados no quadro acima, conforme exemplo. É
proibido repetir figuras e girar a página com freqüência.
2. Mantenha a forma e o tamanho de cada figura.
3. Ignore as mudanças de orientação e a sobreposição de figuras.
4. Utilize todos os pontos de cada quadro.
5. Não use o mesmo ponto para mais de uma figura.
6. Resolva os quadros na ordem indicada, de 1 a 19, sem “pular” nenhum
deles.
9. Diferenciação:
é o processo pelo qual se distinguem as partes relevantes e irrelevantes de um
todo qualquer. Como já foi visto, Comparação é o processo pelo qual se
relacionam fatos, objetos, pessoas,..., para levantar suas semelhanças e
diferenças, tendo como base seus atributos essenciais. Aparentemente,
Feuerstein deseja, nesse momento, valorizar a busca das diferenças relevantes
para a solução de um problema qualquer.
Uma
situação-problema (adaptada de Mello, 2003) para melhorar o entendimento sobre
a operação cognitiva diferenciação.
1. Observe a ilustração seguinte com bastante atenção.
Você vê treze lápis, sendo que seis deles são pretos e sete são brancos.
Se você “recortar”, mentalmente, os retângulos A e B e, em seguida,
inverter suas posições, ou seja, B à esquerda de A e ambos encostados em C,
então você verá:
(A) 6 lápis pretos e 7
lápis brancos.
(B) 6 lápis pretos e 6
lápis brancos.
(C) 7 lápis pretos e 6
lápis brancos.
(D) 7 lápis pretos e 7
lápis brancos.
(E) 5 lápis pretos e 8
lápis brancos.
O que é comum a todos ao treze lápis? As pontas e as borrachas! O que é
diferente? As cores e as posições! O que é diferente e relevante para a solução
do problema? A borracha do segundo lápis e a ponta do décimo, bem no limite dos
retângulos! Essa borracha e essa ponta poderão participar de mudança de cor de
lápis!!
10. Representação
mental', é o processo pelo qual se interiorizam as imagens de um objeto do
conhecimento, por meio de suas características essenciais, seja ele concreto ou
abstrato.
A respeito
deste processo, Mager e Beach Jr. (1976, p. 54) declaram:
O segundo
tipo de discriminação é ensinado dando ao aluno oportunidade de comparar itens
isolados ou situações com a idéia que ele tem de como deveriam ser. É-lhe
oferecida a oportunidade de se exercitar dizendo o que uma coisa é, ou não é,
de modo coerente com sua idéia a respeito dela. Tal exercício desenvolve a
exatidão de suas imagens mentais, bem como sua capacidade de fazer
discriminações apropriadas.
Uma
situação-problema, inspirada em Smoke (1932) e em Ross e Ross (1997), em cinco
etapas, para melhorar o entendimento sobre a operação cognitiva representação
mental.
11. Transformação
mental: é o processo que possibilita modificar ou combinar características de
um ou vários objetos do conhecimento para produzir representações de maior grau
de abstração ou complexidade.
Uma
situação-problema para melhorar o entendimento sobre a operação cognitiva
transformação mental.
Essa
situação-problema foi apresentada para ilustrar a operação cognitiva
classificação (p. 65 do presente documento). Aqui também se classificam
triângulos: a resposta, no entanto, é mais abstrata do que a que já foi
apresentada. Um estudante que tenha aprendido a classificar objetos e
representar essa classificação por um esquema e que, posteriormente, aprende a
representar a classificação, desses mesmos objetos, num nível mais abstrato,
como é o caso da tabela de dupla entrada, trabalha a operação cognitiva
Transformação mental.
12. Raciocínio
divergente: é o processo que permite estabelecer relações novas sobre o que já
se conhece de modo a que levem a produtos novos, criativos, incomuns e
inéditos.
Uma
situação-problema adaptada de Beard (1976) para melhorar o entendimento sobre a
operação cognitiva raciocínio divergente.
Observe a ilustração abaixo e diga qual é a letra que falta.
Existe mais de uma resposta na Língua Portuguesa. Descubra pelo menos
duas.
13. Raciocínio
hipotético-inferencial: é o processo que permite formular hipóteses, selecionar
as mais viáveis e comprová-las com base na lógica e na previsão de fatos.
Afirmações do tipo se ..., então ... estarão sempre envolvidas na etapa de
comprovação.
Uma
situação-problema (adaptada de Tahan, 1990) para melhorar o entendimento sobre
a operação cognitiva raciocínio hipotético-inferencial.
Uma outra
situação-problema (adaptada de Lauand, 1986) para melhorar o entendimento sobre
a operação cognitiva raciocínio hipotético-inferencial.
Dois homens se casaram cada um com a mãe viúva do outro e cada casal
teve um filho. Qual a relação de parentesco entre as crianças?
Assinale a alternativa que indica o parentesco entre os filhos dos dois
casais.
(A) Primos e irmãos.
(B) Primos.
(C) Sobrinhos e tios
(D) Tios.
(E) Sobrinhos._
Mais outra
situação-problema para melhorar o entendimento da operação cognitiva raciocínio
hipotético-inferencia.
Tarefa
(Pappocom, 2006):
14. Seriação:
é o processo que possibilita descobrir relações já existentes entre objetos e
eventos, defini-las como princípios, testá-las mediante confrontação com novas
informações e aplicá-la na elaboração e produção de séries, seqüências, ciclos
e progressões.
Uma das
características mais importantes do ser humano é impor ordem sobre a aparente
desorganização do universo que o cerca, por meio de relações que se estabelecem
entre objetos e ou eventos, formando sistemas significativos. Na natureza
existem, no entanto, acontecimentos já organizados em seqüências e com ritmos
já determinados, cabendo ao homem a leitura desses eventos antes de tentar
organizá-los: dia e noite, dias da semana, fases da lua, estações do ano, por
exemplo.
Na procura de
relações que existem entre determinados situações, as pessoas descobrem as
regras e as leis que estão por detrás de uma sucessão de fatos já existente. A
partir da ordem e do ritmo das relações e seu desenvolvimento em sucessões,
séries, ciclos, seqüências ou progressões, é possível construir o futuro tendo
como base o passado. As pessoas não se sentem escravas ou dependentes do mágico
ou da sorte quando se sentem capazes de utilizar as leis fundamentais de um
fenômeno para antecipar o inevitável ou prever o provável.
As pessoas
que apreendem de forma episódica as informações do meio que as cercam,
estabelecem e projetam relações virtuais com dificuldades e usam, de forma
inadequada, os conceitos espaciais e temporais, terão dificuldades para ler e
interpretar o mundo, ou seja, não perceberão claramente as relações nem
deduzirão as regras que estão por detrás de seqüências que surgem em suas
vidas. Com certa freqüência, essas pessoas confundirão a relação de causa e
efeito com coincidência.
Uma
situação-problema para melhorar o entendimento sobre a operação cognitiva
seriação.
15. Multiplicação
lógica: é o processo que permite estabelecer quais são os elementos comuns de
duas classes. A determinação da intersecção (multiplicação lógica simples)
entre classes ou a organização de classes em tabelas de dupla entrada
{multiplicação lógica biunívoca) são exemplos da busca do que é comum em
diferentes níveis de complexidade.
Uma
situação-problema para melhorar o entendimento sobre a operação cognitiva
multiplicação lógica.
Três conjuntos foram assim definidos:
A: Aves.
B: Animais perigosos.
C: Animais de rapina.
Observe a representação desses três conjuntos com a utilização do
diagrama de Venn:
Leia as premissas, complete a conclusão e hachure subconjuntos:
1. Todos os animais de rapina (C) são perigosos (B). Hachure o que há de
comum entre os dois conjuntos.
2. Algumas aves (A) são de rapina (C). Hachure o que há de comum entre
os dois conjuntos.
Conclusão: Algumas_________( ) são_________( ). Hachure o que há de
comum entre os dois conjuntos.
Mais outra
situação-problema para melhorar o entendimento da operação cognitiva
multiplicação lógica.
A meteorologia previu chuva e frio para hoje. Ela errou! Como estará o
tempo lá fora?
Existe mais de uma alternativa
correta. Assinale todas elas:
(A) Muito sol.
(B) Faz calor.
(C) Faz frio.
(D) Chove e faz frio.
(E) Não chove; não é
verdade que faz frio; e, nem chove e nem faz frio ao mesmo tempo.
16. Raciocínio
transitivo: é o processo que consiste em ordenar, comparar e descrever relações
já existentes de modo que se chegue a uma nova relação por dedução ou
inferência.
Aprende-se a
fazer deduções e a tirar conclusões sobre as relações, por meio da
transferência da relação que existe entre dois pares de elementos de um
conjunto ordenado para um terceiro par, sobre o qual não foi dada nenhuma
relação. O raciocínio dedutivo envolve o uso de um princípio e sua aplicação a
várias situações.
Há uma
diferença entre relações transitivas e relações silogísticas que merece ser
destacada: em relações transitivas, a atenção deve se voltar para as diferenças
entre os elementos de um conjunto ordenado; enquanto que, em relações
silogísticas as semelhanças e características comuns entre conjuntos e
subconjuntos é que são relevantes.
Afirmações
do tipo se A é maior do que B e se B é maior do que C, então A é maior do que
C, estarão sempre envolvidas na justificativa dos resultados.
Uma
situação-problema (adaptada de Martínez Beltrán, 1995) para melhorar o
entendimento sobre a operação cognitiva raciocínio transitivo.
Passaram este ano, pelo caminho de Santiago, seis peregrinos muito
especiais. Temos um desenho deles mas não conhecemos seus respectivos nomes.
Leia as informações abaixo apresentadas:
Os peregrinos Paulo, José e Pedro são maiores do que seus companheiros.
O bastão de Antônio é maior do que os bastões de Paulo e de Pedro. O bastão de
Paulo e de João são do mesmo tamanho. Os bastões de Paulo e de Mário são
menores que seus donos.
Responda à pergunta: Qual é o nome de cada um dos peregrinos?_
17. Raciocínio
analógico: é o processo que possibilita, a partir da comparação de três termos
de uma proposição, chegar a um quarto, tendo como base as relações que podemos
descobrir entre eles. Afirmações do tipo A está para B, assim como C está para
D ou A : B :: C : D, estarão sempre envolvidas no momento da justificativa das
respostas.
Duas
situações-problema para melhorar o entendimento sobre a operação cognitiva
raciocínio analógico (a segunda foi adaptado de Markus, 2006).
1.Complete as proposições abaixo:
1:2:: 15:...............
A água está para o rio, assim como a areia está para o...............
Cem está para vinte e cinco, assim como quatro está para..............
A esperança está para o verde, assim como a felicidade está para o
18. Raciocínio
lógico: é o processo que permite aplicar os princípios de lógica na resolução
de problemas: analogias, deduções, generalizações, induções, relacionamentos de
causa e efeito, levantamento e comprovação de hipóteses, formulação de
conclusões a partir de premissas,...
Uma
situação-problema (adaptada de Gardner, 1967) para melhorar o entendimento
sobre a operação cognitiva raciocínio lógico.

19. Raciocínio
silogístico: é um processo dedutivo que possibilita, a partir de duas
premissas, estabelecer uma conclusão de acordo com leis que regem as relações
entre essas três proposições.
Silogismos
categóricos (ou simplesmente silogismos) são argumentos formados com enunciados
categóricos. Todos os silogismos têm duas premissas e uma conclusão. Embora
cada enunciado categórico tenha dois termos, um termo sujeito e um termo
predicado, o silogismo só possui três termos distintos. Um desses termos ocorre
uma única vez em cada premissa; é o chamado termo médio. Cada um dos dois
termos restantes ocorre uma só vez na conclusão e uma vez numa única premissa:
esses termos são chamados termos extremos.
O seguinte
argumento, formado com três enunciados categóricos, é um silogismo:
1º premissa: Todos os cães são mamíferos
2º premissa: Todos os mamíferos são animais
Conclusão: Todos os cães são animais
Há uma
diferença entre relações transitivas e relações silogísticas que merece ser
destacada: em relações transitivas, a atenção deve se voltar para as diferenças
entre os elementos de um conjunto ordenado; enquanto que, em relações
silogísticas as semelhanças e características comuns entre conjuntos e
subconjuntos é que são relevantes.
Uma
situação-problema adaptada de Machado (2000) e de Machado e Cunha (2004) para
melhorar o entendimento sobre a operação cognitiva raciocínio silogístico.
Um estudioso de silogismos afirmou que: Todos os afaneus são zaragós e
que Todos os zaragós são chumpitazes.
Do que foi dito, é possível concluir logicamente que:
(A) Alguns chumpitazes são
afaneus.
(B) Alguns afaneus são
chumpitazes.
(C) Nenhum afaneu é
chumpitaz.
(D) Todos os afaneus são
chumpitazes.
(E) Todos os chumpitazes
são afaneus._
4.2.3 Relações entre operações cognitivas.
As operações
cognitivas podem ser relativamente simples (identificação e comparação) ou
muito complexas (raciocínio analógico e raciocínio transitivo). É importante
registrar que as operações cognitivas mais simples podem ser consideradas
pré-requisitos das operações mais complexas. Comparação, por exemplo é
considerada pré-requisito de todas as outras operações cognitivas.
Um contato
direto, não-mediado, entre uma pessoa e uma tarefa de silogismo pode ser representado,
esquematicamente, adaptado de Demaldé (1998), para facilitar a compreensão do
processo, com ênfase nas relações entre as operações cognitivas.
4.3 Funções cognitivas.
4.3.1 O que se entende por íimções cognitivas.
Rand, (1994,
p. 78), assim define funções cognitivas:
Funções
cognitivas são fundamentalmente estruturas mentais e psicológicas. Embora o
termo estrutura tenha geralmente uma conotação estática, a estrutura cognitiva
- em oposição à estrutura física - inclui aspectos dinâmicos importantes.
Assim, funções cognitivas são estruturas psicológicas interiorizadas, que
incluem um conjunto de componentes interdependentes, os quais se expressam por
meio de um determinado padrão de comportamento.
Para Rand
(1994, p. 79 à p. 81), cada função cognitiva possui três componentes básicos:
capacidade, necessidade e orientação. Ele define, cada um desses componentes,
da seguinte maneira:
Capacidade é uma habilidade característica, inata ou adquirida de uma pessoa, que
faz com que ela se saia bem numa determinada tarefa ou realize uma ação num
certo nível de complexidade.
Necessidade é um sistema psicológico que é ligado à função. Ela faz com que a
pessoa aja de forma específica sobre o ambiente interno e externo. A
intensidade e força da necessidade são determinantes importantes da
persistência com que a pessoa ativa uma função específica.
Orientação é o componente direcional da função cognitiva. Ela determina a escolha
que a pessoa faz do conteúdo, bem como do contexto para o qual se dirigem os esforços
de resolução de problema. Ela determina também o método e a estratégia de
abordagem a ser aplicada a uma determinada situação ou um determinado conjunto
de estímulos.
Rand sugere
ainda que existe uma relação interativa entre os três componentes da função
cognitiva. “Quando esses três componentes estão presentes, a função cognitiva -
considerada uma atividade mental interiorizada - manifesta-se externamente em
uma operação mental que, em seguida, emerge como comportamento perceptível”.
Sendo Capacidade
= C, Necessidade = N e Orientação = O, teremos, graficamente:
C n N n O =
fiinçâo cognitiva eficiente; qualquer outro subconjunto = função cognitiva
deficiente.
A
intersecção entre os três conjuntos (subconjunto 7) define o que é fiinção
cognitiva eficiente; qualquer outro subconjunto define fiinção cognitiva
deficiente (subconjuntos 1, 2, 3, 4, 5 e 6). Essa representação dá uma idéia da
importância do trabalho do mediador humano. Para cada função cognitiva
deficiente ele tem seis possibilidades diferentes de intervenção.
Funções
cognitivas são as condições para que as capacidades das pessoas se manifestem.
Na verdade, constituem pré-requisitos das operações cognitivas. Ao promover no
mediado uma determinada fiinção cognitiva, o mediador deve preocupar-se em
desenvolver a capacidade e ou a necessidade e ou a orientação.
É importante
ressaltar que as pessoas apresentam deficiências nas funções cognitivas por
falta ou insuficiência de Experiência de Aprendizagem Mediada. Essas funções
cognitivas deficientes impedem que a pessoa manifeste todo o seu potencial
interno, sendo necessário portanto corrigi-las. Essa correção é uma condição
sine qua non para que a pessoa se modifique e aperfeiçoe sua capacidade de
adaptação.
As funções
cognitivas podem ser divididas em três grandes grupos, correspondendo cada um a
um dos três níveis do ato mental: coleta de informações (ou entrada);
processamento de informações (ou elaboração); e, comunicação de respostas (ou
saída). Isso significa que o funcionamento cognitivo de uma pessoa pode ser
afetado em três momentos: ao receber informações, ao processá-las e ao
passá-las adiante.
4.3.2 Definição
de cada uma das funções cognitivas eficientes e deficientes, acompanhada de
exemplos de situações-problema correspondentes.
Anteriormente,
na página 52 deste documento, foram apresentados os nomes das funções
cognitivas eficientes. A seguir, serão apresentadas as definições dessas
funções cognitivas, que são pré-requisitos das operações cognitivas, e a
descrição das funções cognitivas deficientes, que impedem a pessoa de externar
todo o seu potencial interno (Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller; 1980, p. 71
àp. 103; Feuerstein, Falik e Feuerstein, 1998; Feuerstein, 1998c; Martínez
Beltrán, s/d., p. 13, p. 14 e p. 18); Cruz, Franceschini, Gonçalves e Pieroni
Rodrigues, 1998; Sasson, 1999a; Mentis, Skuy, Arnott, Dunn, Durbach e Mentis,
1997, p. 98 à p, 178; e, Tebar, 1998c, p. C-44 à p. C-63 e 2003, p. 108 à p.
112).
Rand (1994,
p. 89) propõe que as funções cognitivas eficientes e deficientes não sejam
definidas a partir de apenas um de seus componentes. Essa informação relevante
será utilizada para definir funções cognitivas utilizando seus três elementos:
capacidade, necessidade e orientação7. A ilustração abaixo, semelhante à figura
apresentada na página anterior, é mais simples e representa, de forma
simbólica, como serão definidas as funções cognitivas eficientes e deficientes.
CnNnO: função
cognitiva eficiente eC e ouN e ou O: funções cognitivas deficientes.
4.3.2.1 Funções
cognitivas de entrada.
1. Percepção clara e precisa.
Função cognitiva eficiente: Discriminação objetiva dos dados de problemas
e situações para atender necessidade de levantar detalhes, diante de tarefas
que exigem tal habilidade e predisposição.
Função cognitiva deficiente: Percepção nebulosa, confusa e superficial e
ou ausência da necessidade de levantar detalhes diante de tarefes e ou não
reconhecimento da situação como própria para a aplicação da capacidade
envolvida.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e ou comentários):
Nos modelos
da primeira série de exercícios (tarefa 1) da página 1 do instrumento
Organização de pontos (Feuerstein e Hofíman, 2000) são poucos aqueles que
percebem que o triângulo é retângulo e isósceles e corresponde a metade do
quadrado.
A percepção
desses detalhes durante a utilização de uma fiinção cognitiva de entrada poderá
prejudicar a elaboração das informações e posterior apresentação de resultados.
2. Comportamento exploratório sistemático.
Função cognitiva eficiente: Coleta planejada e ordenada de dados de
tarefas para atender necessidade de busca de informações diante de tarefes
complexas, que exigem essa capacidade e essa determinação.
Função cognitiva deficiente: Comportamento exploratório não-planejado,
impulsivo e assistemático e ou ausência da necessidade de busca sistemática de
objetos e ou não-percepção da complexidade da tarefa, o que justificaria o
direcionamento da capacidade típica dessa função, quando eficiente.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e ou comentários): Primeiro exemplo:
Segundo
exemplo: o jogo dos sete erros é uma tarefa que exige da pessoa a busca
sistemática de informações. A busca aleatória de dados interfere na solução da
situação-problema, além de gerar retrabalho. As pessoas utilizam, geralmente,
duas estratégias básicas de identificação dos erros: a varredura, da esquerda
para a direita e de cima para baixo e a comparação de partes específicas das
ilustrações (folhas com folhas, árvore com árvore, rosto com rosto,...).
A divisão,
mental, das ilustrações por meio de mediatrizes e ou diagonais e ou círculos
concêntricos seguida da comparação de pares correspondentes dessas partes, pode
ser mediada junto às pessoas.
3. Utilização de vocábulos e conceitos
adequados.
Função cognitiva eficiente: Levantamento, por opção própria, dos
significados exatos das palavras, em qualquer tarefe que utilize a modalidade
verbal e que envolva muitos conceitos.
Função cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência de instrumentos
verbais e conceitos para recepção da informação, afetando dessa forma a
discriminação múltipla, bem como a identificação de objetos, acontecimentos e
relações com seu respectivo nome e ou ausência de disposição para buscar
significados e ou não-percepção das exigências da tarefa.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e ou comentários):
Tarefa
(adaptada de Feuerstein, Rand, Hoflman e Miller, 1980, p. 196): Uma pessoa
resolveu comemorar em sua casa, com um jantar, uma data festiva com seus
familiares envolvendo: 2 avôs, 2 avós, 3 pais, 3 mães, 3 maridos, 3 mulheres, 1
genro, 1 nora, 2 sogros, 2 sogras, 5 filhos, 3 filhas e 2 netos. Essa pessoa
possuía apenas 8 cadeiras que eram, no entanto, suficientes para acomodar todos
ao redor da mesa. A festa foi um sucesso! Como isso foi possível?
O
desconhecimento dos conceitos e das relações entre eles é pré-requisito para a
solução desse problema: O que é avô? O que meu avô paterno é do meu pai? Todos
os homens são filhos? Todos os filhos são pais? ...
4. Orientação espacial.
Função
cognitiva eficiente: Localização de si mesmo no espaço, bem como de todas os
objetos e pessoas que estão ao redor, por necessidade própria, acompanhada da
representação mental de todas essas relações, diante de tarefes que exigem essa
capacidade e essa determinação.
Função
cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência de orientação espacial, o que
engloba também a falta de sistemas estáveis de referência e implica em uma
desorganização espacial em nível topológico, projetivo e euclidiano e ou
ausência da necessidade de se estabelecer relações e ou não-percepção da exigência
da tarefe.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e ou comentários):
O exercício 3
da página 2 do instrumento Orientação espacial I (Feuerstein e Hoffman, 2000b)
pretende que o estudante escreva nos retângulos as relações existentes entre o
menino e quatro objetos. As relações entre o menino e os quatro objetos são
inversas às relações percebidas pela pessoa, ou seja, por exemplo, a casa está
na frente de quem resolve o exercício e, no entanto, está atrás do menino. É
necessário colocar-se, mentalmente, no lugar do menino para entender seu ponto
de vista. Seria possível, neste caso, a casa estar localizada atrás do menino e
o banco ficar à sua esquerda?
5.Orientação temporal.
Função cognitiva eficiente: Localização de si mesmo no tempo (presente,
passado e futuro), bem como de outras coisas e pessoas, por necessidade
própria; representação mental de todas essas relações, diante de tarefes que
exigem essa capacidade e essa determinação.
Função cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência de orientação
temporal, carência de conceitos temporais e ou ausência da necessidade de
orientar-se no tempo e ou não-percepção da oportunidade de demonstrar essa
capacidade.
Informações
complementares (exemplos de tarefes e comentários):
Na página de
capa do instrumento Organização de pontos (Feuerstein e Hoffman, 2000a), dois
aspectos do PEI são abordados pelo mediador, por meio de perguntas, focando a
importância de pensar antes de fazer: o emblema e o lema do PEI.
Vejam o
menino que está representado no canto superior direito: O que ele está fazendo?
Pensando? Por que vocês acreditam que ele está pensando? Pela maneira como
segura o lápis? Pelo que está escrito na parte inferior da página? Ele está
tentando resolver um problema difícil? Em que pensamos quando tentamos resolver
um problema? O menino etíope pensando é o emblema do PEI e aparece em todas as
páginas de capa dos instrumentos do PEI.
Leiam a
frase que está na parte inferior da página: Um momento... deixe-me pensar! O
que significa a primeira parte da frase Um momento ... ? Qual o significado da
palavra momento? O que significam esses três pontos? Uma pausa? De quantos
minutos? De quantas horas? De quantos dias? Qual é o significado da frase como
um todo? Que devo pensar antes de fezer alguma coisa? Durante quanto tempo? O
tempo necessário (indefinido)? A frase Um momento ... deixe-me pensar! foi
escolhida como o lema, o slogan do PEI. O lema do PEI aparece em todas as
páginas de capa dos instrumentos do PEI.
Mesmo assim,
se o mediador pedir que os estudantes realizem a primeira tarefe da página 1
desse instrumento, apresentada imediatamente depois da página de capa, sem
solicitar que eles realizem um plano, ou seja, que pensem antes de fazer, eles
realizarão as duas primeiras linhas dessa tarefe, de forma impulsiva. Essa
função cognitiva é pré-requisitido da atividade planejamento.
Vale a pena
destacar alguns exemplos de tarefas ou situações onde essa fiinção cognitiva
pode ser trabalhada.
1.A
antevéspera do dia de seu aniversário corresponde a que dia? Questão simples e
de fácil resposta: se a pessoa nasceu no dia 19, então o dia 17 corresponde a
antevéspera de seu aniversário! E se diante dessa pergunta a pessoa
respondesse: — Depende, feltam informações. Em quais dias e em qual mês essa pessoa
poderá ter nascido?
2.Imagine
que seu relógio perdeu o ponteiro dos minutos. Observe a ilustração abaixo, que
representa uma parte do relógio, e responda quantas horas e quantos minutos
estão aproximadamente indicados?
(A): 3h
45min (B): 3h 15min (C): 3h 20min (D): 3h 30min (E): 3h 25min
3.Hoje é
sábado. Depois de depois de amanhã será que dia?
6. Conservação, constância e permanência do
objeto.
Função cognitiva eficiente: Representação mental correta dos objetos;
conservação de seus traços distintivos essenciais, independentemente de
mudanças em sua apresentação, a partir de necessidades próprias; e, em função
de características da tarefe.
e ou ausência
da necessidade de perceber a manutenção de determinadas qualidades do objeto e
ou não-percepção das exigências da tarefa.
Informações
complementares (exemplos de tarefes e comentários):
No exercício
apresentado na linha dois, coluna três da página 2 do instrumento Organização
de pontos (Feuerstein e Hoffman, 2000a), algumas pessoas poderão declarar, como
dificuldade encontrada, no momento da coleta de informações, a identificação de
um “losango” e não de um quadrado! Isso pode significar que a conservação da
forma do quadrado não foi realizada.
7. Precisão e exatidão na coleta de
informações.
Função cognitiva eficiente: Opção por selecionar, de forma cuidadosa,
informações relevantes, detalhadas e verdadeiras, diante de tarefes que exijam
essa capacidade e essa determinação.
Função cognitiva deficiente: Falta ou não percepção da necessidade de
precisão e exatidão na coleta de informações e ou não seleção de informações
relevantes, detalhadas e verdadeira e ou não-percepção da oportunidade de
demonstrar essa competência e essa necessidade.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
No exercício
da linha quatro, coluna dois da segunda tarefa da página 1 de Organização de
pontos (Feuerstein e Hofftnan, 2000a), a percepção dos dois triângulos, em
função da sobreposição das figuras, deverá exigir seleção detalhada (lados
iguais e ângulo reto) e verdadeira dos pontos que os compõem.
Outro
exemplo:
O exercício
da linha dois, coluna dois da página 2 do instrumento Organização de pontos
(Feuerstein e Hoffman, 2000a) representa um desafio: a complexidade é maior a
partir da superposição das três figuras do modelo. A primeira figura a ser
localizada é o quadrado, já que os triângulos correspondem a metade dessa
figura. Aparentemente, há duas possibilidades de seleção de pontos que formam o
quadrado!
8. Utilização de mais de uma fonte de informação.
Função cognitiva eficiente: Trabalho simultâneo com números, figuras,
esquemas, textos, formas, por exemplo. Necessidade de utilização de
organizadores em tarefes com muitas informações que exijam esse tipo de
capacidade.
Função cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência da capacidade de
considerar simultaneamente duas ou mais fontes de informação, o que se reflete
no tratamento truncado dos dados, sem perceber neles uma unidade de fatos
organizados e ou ausência da necessidade de organização das informações em
tarefas que exijam a demonstração dessa capacidade e dessa necessidade.
Informações
complementares (exemplos de tarefes e comentários):
Tarefa já
selecionada anteriormente (adaptada de Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller,
1980):
Uma pessoa
resolveu comemorar em sua casa, com um jantar, uma data festiva com seus
familiares envolvendo (no mínimo): 2 avôs, 2 avós, 3 pais, 3 mães, 3 maridos, 3
mulheres, 1 genro, 1 nora, 2 sogros, 2 sogras, 5 filhos, 3 filhas e 2 netos.
Essa pessoa possuía apenas 8 cadeiras que eram, no entanto, suficientes para
acomodar todos ao redor da mesa. A festa foi um sucesso! Como isso foi
possível?
Essa tarefa,
já apresentada na p. 81 deste texto, envolve, além do domínio de conceitos e de
relações, muitas informações que devem ser tratadas simultaneamente. Essas
informações precisam ser organizadas para que se possa lidar com elas. Esquemas
que indiquem relações familiares entre pessoas nomeadas, poderá ajudar. Assim,
por exemplo:
Ultrapassada
a questão de como trabalhar com tantas informações, ao mesmo tempo, pode-se
dedicar atenção à solução da questão.
4.3.2.2 Funções
cognitivas de elaboração.
9. Percepção
e definição clara do problema.
Função cognitiva eficiente: Compreensão exata da tarefa a ser realizada,
ou seja, o que se deve fazer, que informações são dadas e o que é solicitado,
por vontade própria para atender exigência da tarefe.
Função cognitiva deficiente: Dificuldade de vivenciar um problema real,
tomando-se pois incapaz de defini-lo e ou ausência da necessidade de definir
claramente qual é a tarefe a ser realizada e ou não-percepção da exigência da
tarefa.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
Vergara
(2001, p. 96) propõe o seguinte problema a seus leitores:
Dizem - não
há prova disso - que o próprio Einstein bolou o enigma abaixo, em 1918, e que
pouca gente, além dele, conseguiria resolvê-lo. Então, esta é a sua chance de
se comparar à genialidade do mestre. Queime a mufa!
Numa rua há
cinco casas de cinco cores diferentes e em cada uma mora uma pessoa de uma
nacionalidade. Cada morador tem sua bebida, seu tipo de fruta e seu animal de
estimação. A questão é: quem é que tem um peixe?
Siga as
dicas abaixo:
1)Sabe-se
que o inglês vive na casa vermelha; o suíço tem cachorros; e o dinamarquês bebe
chá.
2)A casa
verde fica à esquerda da casa branca; quem come goiaba cria pássaros; e o dono
da casa amarela prefere laranja.
3)O dono da
casa verde bebe café; o da casa do centro bebe leite; e o norueguês vive na
primeira casa.
4)O homem
que gosta de abacate vive ao lado do que tem gatos; o que cria cavalos vive ao
lado do que come laranja; e o que adora abacaxi bebe cerveja.
5)O alemão
só compra maçã; o norueguês vive ao lado da casa azul; e quem traz abacate da
feira é vizinho de quem bebe água.
Definição do
problema realizada por uma estudante da 3a série do Ensino Médio:
1.São cinco
casas com cinco características diferentes: cor, nacionalidade, bebida, fruta e
animal de estimação.
2.Estão
envolvidas nessa tarefa 25 informações, ou seja, cinco casas multiplicadas por
cinco diferentes características.
3.A tarefa é
descobrir quem é que tem um peixe.
4.São dadas
quinze dicas que darão suporte para a descoberta das 25 informações envolvidas.
5.As dicas
envolvem termos ligados a orientação espacial como por exemplo: centro, ao
lado, vizinho.
6.As cinco
casas estão uma ao lado da outra e eu estou olhando-as, do outro lado da rua.
7.Nenhuma
dica faz referência ao peixe, o que sugere que para descobrir quem é que tem o
peixe será necessário descobrir 24 das 25 informações envolvidas pela
situação-problema.
10. Diferenciação entre dados relevantes e
irrelevantes.
Função cognitiva eficiente: Classificação de informações segundo sua
importância para a resolução de um problema novo ou modificado, por iniciativa
própria e em razão da exigência da tarefa.
Função cognitiva deficiente: Incapacidade de separar as informações
relevantes das irrelevantes, com vistas à definição do problema e ou feita da
necessidade de identificar informações relevantes e ou não aplicação dessa
capacidade numa situação que a exige.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
Moysés
(2000: p. 136 e p. 137) assim descreve sua interação com Renata diante da
apresentação, pela primeira vez, de um problema de enredo:
Em agosto,
começa uma nova fase do processo de ensino/aprendizagem. Pela primeira vez são
passados os chamados ‘problemas de enredo’. Eles vão levar Renata para um outro
nível de desenvolvimento. Observo-a. Ela está trabalhando com Marcelo, seu
companheiro de carteira. Sempre disposta a fazer as tarefas, já a havia
concluído quando me aproximei dela. Eis o problema:
Eu comprei
250m de arame para cercar o lote 17 que tem a forma de um quadrado e tem 12m de
lado.
a)Com
quantas voltas de arame eu posso cercar o lote 17?
b)Quantos
metros vão sobrar?
Vejo, no
caderno de Renata, as operações realizadas. A primeira delas é8:
250 -17= 243
8. É
importante registrar que 250 - 17 = 233. Nada é dito sobre isso no texto.
Peço-lhe que
explique como fez. Passa a ler o problema em voz alta. Parece não se dar conta
do significado do ‘lote 17’.
Mantenho com
ela o seguinte diálogo:
— Por que você diminuiu 17 de 250?
— Porque tem esses números lá no
problema.
— Mas o que ele quer dizer?
— Que é o lote 17.
— Qual é o número de sua casa?
— É48.
— Tem alguma coisa a ver o número de
sua casa com o tamanho dela?
— Nâo. Acho que não.
— Essa sala tem um número na porta.
Esse número tem alguma coisa a ver com o tamanho dessa sala?
— Não tem não. Ah! Já sei.
Dizendo isso
se apressa em apagar aquela conta. Tenta fazer sozinha, mas não consegue.
Passo, então, a encaminhar perguntas que a levam a resolver o problema
corretamente.
O problema
do lote 17 tem quatro informações, sendo que uma delas nâo é relevante para sua
solução. Além disso, apresenta duas perguntas a serem respondidas. É possível
que Renata nem tenha lido todo o problema, uma vez que, realizou a operação
subtração com os dois primeiros dados, na ordem em que eles aparecem.
11. Comportamento comparativo.
Função cognitiva eficiente: Levantamento de semelhanças e diferenças
entre objetos, acontecimentos e pessoas por necessidade própria, em qualquer
situação.
Função cognitiva deficiente: Falta de um comportamento comparativo por
livre iniciativa e ou limitação desse tipo de comportamento a uma área restrita
de necessidades e ou não percepção da oportunidade de utilização dessa
capacidade.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
12. Ampliação do campo mental.
Função cognitiva eficiente: Estabelecimento de relações entre
aprendizagens passadas, atuais e futuras, por necessidade própria, em toda
oportunidade que envolva aprendizagens novas.
Função cognitiva deficiente: Limitação do campo mental, ou seja, não
estabelecimento de relações entre novas aprendizagens e aprendizagens passadas
ou futuras e ou ausência da necessidade de estabelecer tais relações e ou não
reconhecimento da importância dessa capacidade e dessa necessidade.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
Numa
primeira momento, o mediador apresenta um problema que envolve a classificação
de triângulos e obtém de seus alunos uma determinada resposta.
1.Classifique
os triângulos abaixo quanto aos lados e quanto aos ângulos, usando o
organizador esquema de classificação.
Em outra
oportunidade, o mediador apresenta o mesmo problema ou outro problema diferente
que envolve a classificação de triângulos e consegue de seus alunos uma
resposta diferente daquela obtida inicialmente.
2.Classifique
os triângulos abaixo quanto aos lados e quanto aos ângulos, usando o
organizador tabela de dupla entrada.
O mediador,
por meio de perguntas, estabelece a ligação entre a aprendizagem anterior e a
nova aprendizagem e remete o mediado para considerações sobre futuras
aplicações: Comparem a tarefa que vocês resolveram hoje com aquela resolvida na
aula passada. Quais as semelhanças? E as diferenças? O que vocês aprenderam
hoje? Mais uma ferramenta de classificação? Qual é o nome dessa ferramenta,
desse organizador? Qual ferramenta ocupa mais espaço? No futuro, diante de uma
tarefa semelhante a essa que vocês resolveram, qual organizador vocês
utilizariam? Depende? Depende do quê?
13. Percepção global da realidade.
Função cognitiva eficiente: Apreensão, por opção própria, dos dados de
forma não-episódica, ou seja, buscando relacioná-los com outras informações
dentro do contexto em que ocorrem, diante de qualquer tarefa.
Função cognitiva deficiente: Percepção episódica da realidade e ou falta
da necessidade de análise do todo antes de buscar detalhes e ou não compreensão
do significado dessa capacidade e dessa disposição..
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
Tarefe
(adaptada de Feuerstein, 2000):
1.Observe
com muita atenção a figura abaixo representada:
2. No espaço
abaixo, faça uma cópia da figura usando caneta de quatro cores. Quando o
mediador pedir, troque de cor na seguinte ordem: preta, azul, verde, vermelha,
preta, azul,...
O ponto de
partida da cópia dessa figura complexa indica se a pessoa percebeu a figura
como um todo antes de buscar detalhes ou se realizou a atividade sem nenhum
tipo de organização. Em outras palavras, traçar o retângulo, suas diagonais e
suas mediatrizes, nessa ordem, antes do traçado dos detalhes indica tratamento
não episódico das informações enquanto que iniciar a cópia pelo triângulo
equilátero da parte superior da figura sugere percepção episódica da realidade.
14.Utilização do raciocínio lógico.
Função cognitiva eficiente: Aplicação da lógica na solução de problemas:
analogias, generalizações, relações de causa e efeito, raciocínio silogístico,
indução, dedução, por exemplo, acompanhada de justificativas, por necessidade
própria e diante de tarefes que exijam essa capacidade e essa necessidade.
Função cognitiva deficiente: Utilização limitada de ferramentas lógicas na
solução de problemas e ou falta ou insuficiência da necessidade de evidência
lógica e ou não-percepção da exigência da tarefa.
Informações
complementares (exemplos de tarefes e comentários):
Raciocínio
lógico envolve a utilização de diversas ferramenta. As tarefas selecionadas e
apresentadas a seguir envolvem a indução (criação de classes) e a dedução
(aplicação de princípios).
Tarefa 1.
Agrupe as seguintes palavras em classes: azeite, vaca, banana, caderno,
cachorro, caneta, sal, lápis, tigre, livro, laranja, rato, pêra, pimenta, uva,
vinagre. Justifique sua resposta.
Tarefa 2.
Para cada conjunto, nomeado a seguir, escreva quatro de seus elementos.
Justifique sua resposta.
Família:
Frutas
cítricas:
Utensílios
de cozinha:
15. Interiorização do próprio comportamento.
Função cognitiva eficiente: Conscientização do próprio funcionamento
intelectual, ou seja, dos processos, raciocínios e estratégias de resolução dos
problemas acompanhado da capacidade de explicá-los oralmente.
Função cognitiva deficiente: Falta ou limitação de interiorização do seu
próprio comportamento e ou ausência da necessidade de apresentar evidência
lógica e ou não-percepção desse tipo de exigência da tarefe.
Informações
complementares (exemplos de tarefes e comentários):
Após a
resolução dos exercícios de qualquer página, de qualquer instrumento do PEI, o
mediador solicita que os mediados compartilhem suas respostas e apresentem as
evidências lógicas que as justifiquem. O mediador freqüentemente fica
insatisfeito quando os mediados não justificam devidamente suas respostas,
sejam elas corretas, incorretas ou parcialmente corretas. Nesse caso, perguntas
deverão ser feitas para estimular os mediados a apresentar os argumentos
lógicos que embasam suas soluções. No caso de respostas incorretas, espera-se
que os mediados, ao apresentar o raciocínio utilizado, percebam os erros
cometidos e consigam corrigi-los espontaneamente. Assim, ele deve dirigir aos
mediados perguntas semelhantes às apresentadas abaixo (adaptado de Feuerstein,
1998a).
Considero
essa resposta muito boa. Mas, por quê? Explique-se melhor. Dê mais detalhes que
esclareçam ou justifiquem essa resposta. Por que você escreveu desse modo? Por
que você fez essa afirmação? Que tipo de raciocínio você utilizou? Que
argumento está por trás disso tudo? Tem lógica o que você está dizendo? Todos
estão de acordo com a justificativa apresentada? Por que sim? Por que não?
16. Utilização do raciocínio
hipotético-inferencial.
Função cognitiva eficiente: Diante de problemas complexos e abstratos,
opção, por vontade própria, de formular hipóteses, selecionar as mais viáveis e
comprová-las com base na lógica e na previsão de fatos, utilizando de
argumentos do tipo se A, então B.
Função cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência de raciocínio
hipotético-inferencial e ou falta da necessidade de utilizar esse tipo de
raciocínio e ou não-percepção das exigências da tarefa.
17. Estabelecimento de estratégias para
verificação de hipóteses.
Função cognitiva eficiente: Diante de problemas complexos e abstratos,
opção, por vontade própria, de criar e selecionar os procedimentos mais
adequados para avaliar hipóteses e resolver problemas.
Função cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência de estratégias para a
verificação de hipóteses e ou falta da necessidade de utilizar esse tipo de
raciocínio e ou não-percepção das exigências da tarefa.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários para as duas funções):
Tarefa:
Observem a
operação de adição, representada por letras, abaixo apresentada:
D O N A L D +
G E R A L D R O B E R T
Cada letra
representa um único número de 0 a 9. Letras iguais: números iguais. Sabendo-se
que D = 5, estabeleçam o valor de cada letra.
Mediador:
Alguém resolveu o problema? Quem quer resolvê-lo no quadro, ao mesmo tempo que
explica suas decisões.
Natália: Eu
gostaria!
Mediador: Eu
não sei se vocês sabem mas, o matemático inglês que criou essa questão
tornou-se Sir por essa façanha! Natália, como você a resolveu, passo a passo,
com justificativas.
Natália: Fiz
duas coisas antes de começar (no quadro):
0123456789
A = B = D = 5 E= G = L = N= 0= R= T =
D O N A L D +
G E R A L D R O B E R T
Mediador:
Muito bem! Esses dois organizadores irão ajudá-la. Apresente sua solução. Use
giz de outra cor, para chamar a atenção sobre suas decisões.
Natália:
Substituí todos os Ds por 5. Realizei a operação D + D = T—>5 + 5 = 0evai
uma dezena (1). Substituí T por 0 e acrescentei 1 no alto da coluna das
dezenas. Eliminei o zero da minha relação e na outra indiquei T = O.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
9
A = B = D = 5 E = G = L = N= 0= R= T = 0
1
D50NALD5 +
G
ERALD5
R O B E R To
Mediador:
Nesse primeiro passo, não tenho pergunta a fazer. O que você fez em seguida?
Continue.
Natália: Fui
para a coluna da dezena de milhar, onde O + E = O (letra o + letra e = letra
o). E deveria ser igual a zero para que essa igualdade se desse. Mas, T é igual
a zero. Se N + R > 10, então vai 1 e E = 9!
Mediador:
Veja só o que você fez. “E deveria ser zero ...” Você levantou uma hipótese e a
testou, “Mas, T é igual a zero”. Isso é muito bom!! Continue, por favor.
Natália:
Substituí os dois Es por 9 e acrescentei 1 no alto da coluna das centenas de
milhares. Eliminei o nove da minha relação e na outra indiquei E = 9.
Mediador: E
o que você fez depois?
Natália: Fui
para a coluna da centena, onde A + A = E, ou seja, A + A = 9. A hipótese de que
A = 4,5 está fora de cogitação porque não estamos trabalhando com números
decimais. Estamos trabalhando com números inteiros de 0 a 9. Se nesta coluna
houvesse uma reserva (vai 1) da coluna das dezenas, A poderia ser igual a 4 ou
a 9! A hipótese A = 9 precisa ser desconsiderada uma vez que E = 9!! Logo, A =
4!!! Substituí os dois As por 4 e acrescentei 1 no alto da coluna das centenas.
Eliminei o quatro da minha relação e na outra indiquei A = 4.
0 1 2 3 4 5
6 7 8 9
A = 4 B = D = 5
E = 9 G= L= N= 0= R= T = 0
D5O N A4 L Ds +
G E9 R A4 L Ds
R O B E9 R To
Mediador:
Muito bom! E depois?
Natália:
Para continuar, escolhi a coluna das dezenas, ou seja, 1 + L + L = R, com R
> 10 (vai uma centena). À primeira vista, L pode ser igual a qualquer um dos
números feltantes. Vamos ter que levantar e testar diferentes hipóteses, no
entanto, até encontrar o valor de L. Olhem os números que faltam: 1, 2, 3, 6, 7
e 8. Pode ser 1? Não, porque 1 + 1 + 1 < 10. Pela mesma razão, eliminei os
números 2 e 3. Pode ser o número 6? Não, pela seguinte razão: se L = 6, então R
= 3; olhem a coluna da centena de milhar, isto é, l + 5 + G = Rou6 + G = 3, o
que é um absurdo e inviabiliza essa hipótese. L pode ser igual a 7? Não, porque
R = 5 e D = 5 (dado do problema). L só pode ser, então, igual a 8!
0123456789
A = 4 B = D = 5 E = 9 G= L = 8 N= 0= R=7 T = 0
1 í
1 D5 0 N A4 Ls D5 +
G E9 R7 A4 L8 Ds Ri O B E9 R7 To
Mediador:...
18. Comportamento planejado.
Função cognitiva eficiente: Opção por pensar antes de agir:
estabelecimento de objetivos, previsão de meios para alcançá-los e definição de
formas para a sua avaliação, diante de qualquer tarefa.
Função cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência de comportamento
planejado e ou feita da necessidade de refletir antes de realizar e ou
não-percepção das exigências de tarefes
Informações
complementares (exemplos de tarefes e comentários):
1.Dar nome
as figuras do modelo.
2.Identificar
as características essenciais de cada figura.
3.Identificar
e traçar o quadrado, usando as pistas, quando existirem.
4.Identificar
e traçar os triângulos, com precisão e exatidão.
5.Comparar
as figuras identificadas e traçadas com as figuras do modelo.
Em seguida,
solicita aos estudantes que realizem os exercícios, individualmente. A partir
desse primeiro trabalho, essa função cognitiva será abordada com muita
freqüência nas demais páginas do PEI.
19. Elaboração de categorias cognitivas.
Função cognitiva eficiente: Construção, a partir de exemplos concretos,
de conceitos e princípios abstratos; uso desses conceitos e princípios na
classificação de informações e apresentação das respostas.
Função cognitiva deficiente: Dificuldade na elaboração de categorias
cognitivas devido à falta dos conceitos necessários em nível de
recepção/expressão de informações ou à insuficiência de classificação.
20. Comportamento somativo.
Função cognitiva eficiente: Utilização espontânea de contagem e cálculo
para resolver problemas, por necessidade própria e de acordo com exigências
implícitas da tarefa.
Função cognitiva deficiente: Falta ou insuficiência de utilização do
comportamento somativo espontâneo e ou ausência da necessidade de realizar
contagens e cálculos e ou não reconhecimento da exigência implícita dessa
competência e dessa determinação,.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários para as duas funções):
A página E-3
do instrumento Organização de pontos (Feuerstein e Hofíman, 2000a apresenta uma
instrução e três figuras como modelo:
DESCUBRA O ERRO
Escreva o tipo de erro que se encontra em cada
quadro, observando as indicações abaixo:
I= incorreto F
= falta de um ponto P = figura pequena A = ponto adicional
Mediador:
Essa é a terceira página de erro que vocês vão realizar. Antes de vocês lerem a
instrução, observem, com muita atenção as três figuras do modelo. Existem
figuras conhecidas? Quais?
João: Duas
figuras são conhecidas: o quadrado e o triângulo retângulo isosceles. Estamos
trabalhando com essas figuras desde o começo do instrumento.
Mediador: É
isso mesmo João, você tem razão. O quadrado e o triângulo retângulo isósceles
são figura familiares. Vocês já construíram os conceitos correspondentes a
essas duas figura! E a terceira figura? Vocês conhecem? Ela tem nome universal?
Maria: A
figura não é familiar mas podemos nomeá-la, por associação, como já fizemos com
outras figuras não conhecidas, na página anterior. Sugiro, para ela, o nome de
ampulheta!
Mediador:
Ótimo, Maria. Você está utilizando, neste momento, o que você aprendeu na aula
passada! Que princípios vocês estabeleceram sobre o assunto, na aula passada?
José: Eu
anotei no caderno. Vou ler:
1.Quando um
objeto envolvido numa tarefa não possui nome universal, deve-se buscar um nome
a partir de suas características essenciais.
2.A apropriação
(interiorização) de um objeto é facilitada quando ele recebe um nome.
Mediador: Os
princípios apresentados por José valem para essa nova figura batizada de
ampulheta por Maria. Quais são as características essenciais de uma ampulheta?
João: Tem seis
lados, com lados paralelos dois a dois.
Maria: Além
disso, é uma figura plana convexa e simétrica, com dois eixos de simetria: um
vertical e outro horizontal.
José: Ela
envolve seis pontos e para identificá-la, numa nuvem de pontos, considero
relevantes os dois pontos bem próximos localizados no centro da figura.
Mediador:
Vocês acabaram de construir o conceito de ampulheta! Esse conceito e os
princípios relembrados indicam que trabalhamos a função cognitiva Elaboração de
categorias cognitivas.
Mediador:
Leiam, agora, a instrução dessa página e respondam a seguinte pergunta: Que
etapa pode ser incluída no plano para a solução desses exercícios? Vocês
fizeram isso na página E-l!
Maria: Eu me
lembro. Os erros F (feita de um ponto) e A (ponto adicional) indicam que contar
o número de pontos de cada quadro deve ser uma das etapas iniciais. A instrução
não pede que contagens sejam feitas mas, isso está implícito nesses dois erros.
José: Em
cada campo devem existir treze pontos: seis pontos da ampulheta mais quatro do
quadrado mais três do triângulo.
Mediador:
Qual o nome da fiinção cognitiva sugerida por Maria e José?
João: Um
momento, deixe-me consultara lista ... seria Conduta somatival
21. Estabelecimento de relações virtuais.
Função cognitiva eficiente: Capacidade para visualizar e construir
relações que só existem potencialmente, mas não em realidade; interiorização de
esquemas, modelos, princípios, por exemplo, que permitam simulações mentais em
situações de relações insuficientemente definidas, por opção própria e sempre
que a tarefa exigir.
Função cognitiva deficiente: Dificuldade em estabelecer relações virtuais
e ou feita da necessidade de estabelecer tais relações e ou não percepção da
oportunidade de realizar tal capacidade.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
De acordo
com Feuerstein, Rand, Hofíman e Miller (1980); Feuerstein e Hofíman (2000a); e,
Sánchez (1989), é uma característica do ser humano impor ordem sobre a aparente
desorganização do universo que o cerca por meio da ligação de objetos e ou
eventos em sistemas significativos. A projeção de uma relação que é potencial,
seja no instrumento
Organização
de pontos ou no mundo como um todo, requer que a pessoa demonstre prontidão e
necessidade de pesquisar por interligações e significados entre fenômenos que
se apresentam separados uns dos outros. A necessidade de projetar relações que
não são evidentes nem obrigatórias para reestruturar um campo no qual existem
lacunas estruturais inerentes, é um desempenho que pode ser aprendido. Sem
isso, há uma apreensão episódica da realidade na qual objetos e eventos são
percebidos como únicos, singulares e isolados.
Lopes (2003)
declara:
Há exatos 32
mil anos, a humanidade já era capaz de observar com precisão o céu noturno e
desenhar constelações, usando características das estrelas para auxiliar
cálculos aqui na Terra. É essa a tese do pesquisador alemão Michael
Rappenglück, que diz ter identificado o desenho da Constelação de Órion numa
pequena escultura do paleolítico. Batizada de ‘o antropóide no céu’ por
Rappenglück, a figura seria a mais antiga representação das estrelas feita por
mãos humanas. Tal ‘mapa estelar’ incluiria ainda, no verso uma série de marcas
que ajudariam uma mulher grávida a determinar quando ela iria dar a luz.
Sobre esse
assunto, assim se manifesta Nogueira (2003, F 19): “A primeira coisa que os
seres humanos fizeram para estudar o céu foi dividir as estrelas em
constelações. As constelações foram criadas do mesmo jeito que fazemos as brincadeiras
de ligar pontos, só que, no lugar dos pontos, haviam estrelas.” Ele informa
ainda que existem 88 constelações oficiais, embora essas constelações não sejam
as únicas possíveis, uma vez que as estrelas podem ser virtualmente ligadas de
diversas maneiras, formando muitas imagens.
Affonso
(2005) diz que:
As
constelações são figuras totalmente imaginárias que começaram a ser criadas
pelo homem primitivo há mais de 6 mil anos, para agrupar algumas estrelas
visíveis a olho nu, aparentemente próximas, tendo em vista que nomear cada uma
delas era um trabalho muito complexo. Em geral, as estrelas de uma constelação
nada têm a ver entre si, estando separadas por grandes distâncias, sendo que
elas acabam formando uma figura por mero efeito de perspectiva.
Ele afirma
ainda que, “As constelações marcam a passagem do tempo e as estações do ano e
são pontos de orientação para o homem. A constelação abaixo, conhecida como
Ema, representava o inverno para os índios tupinambás.”
4.3.2.3 Funções
cognitivas de saída.
22. Comunicação não-egocêntrica.
Função cognitiva eficiente: Apresentação, por necessidade própria, dos
resultados de uma tarefa levando em consideração não apenas suas percepções,
necessidades e opiniões, mas também as de seus interlocutores, diante de
tarefas que envolvam o raciocínio divergente.
Função cognitiva deficiente: Comunicação egocêntrica e ou ausência da
necessidade de levar em consideração a opinião dos outros e ou não
reconhecimento de tarefes que envolvem o raciocínio divergente.
Informações
complementares (exemplos de tarefas e comentários):
Tarefa
(Beard, 1976): Qual é a letra que falta na ilustração abaixo?
Mediador:
Alguém resolveu a tarefe? Quem gostaria de apresentar e justificar sua solução?
Antônio: A
letra que feita é B. Vejam só as relações de ordem entre as letras que
estabeleci para justificar minha resposta: Se J vem depois de I e X vem depois
de V, então B deverá vir depois de A! Observem (no quadro) o esquema que fiz:
Mediador:
Antônio apresentou sua solução acompanhada de justificativa lógica de sua
opinião. Alguém encontrou resposta diferente?
Paulo: Quero
dizer, em primeiro lugar, que a resposta de Antônio está correta! Sua
justificativa me convenceu! Encontrei, no entanto, resposta diferente: a letra
que feita é a letra E.
Mediador:
Paulo, justifique sua opinião.
Paulo: No
alfabeto da nossa língua existem letras que significam números: I, V, X, L, C e
M. A partir disso, estabeleci outras relações entre letras opostas: Se a
primeira letra (I) é A e a décima letra (X) é J, então a quinta letra (V) é E!
Observem (no quadro) o esquema que fiz:
Nenhum comentário:
Postar um comentário